sábado, 18 de abril de 2015

Publico com um prazer enorme esse texto de CLÁUDIA FRANÇA, mestre, amiga, alma de luz. Identifiquei-me muito com ele. Hoje, quando me percebo em outra realidade, com outros desejos e sonhos, quando crenças antigas já não têm mais lugar na minha vida, quando o verdadeiro sentido de SER me faz perceber que o TER ocupa um lugar sem a menor expressão, quando tenho ao meu lado ALMAS GÊMEAS que são meu abrigo, conforto, aconchego, percebo que nosso encontro, providencial, me sustenta e alivia nos percursos pedregosos dessa minha jornada e a torna muito mais leve...

"Quando se fala em "alma gêmea", os terráqueos em geral se dividem em dois grandes grupos: os que acreditam nisso e os que não acreditam. No rigor, a alma gêmea seria outra pessoa com a qual se tem uma empatia imediata, em que são acionados outros modos de conexão intersubjetiva, como a intuição e uma rítmica afim ao outro. A alma se sente em casa quando o outro está perto e as coisas todas se tornam, de certo modo, atemporais, mesmo que a urgência e a efemeridade sejam a tônica dos encontros.
Em jogo nesse embate entre acreditar nisso ou não, a questão mesma de uma predestinação; o esboço da vida já estaria traçado e a cada um de nós só restaria fortalecê-lo com nuances, hachuras, relações de contraste, ritmo, harmonia e desarmonia cromática, texturas. Isso versus uma ideia de que a vida é indefinível, se formando a partir da experiência, o esboço constantemente posto em sua nudez.
Confesso que já sonhei muito com a ideia de destino (e de alma gêmea), mas tenho me tornado mais existencialista. Isso me dá a chance de pensar em minha vida como uma colagem em que os elementos ainda não estão fixados; um vento forte pode abalar a composição ou simplesmente uma sacudida no suporte faz cair os excessos (e isso realmente acontecia comigo, na graduação).
Eu queria muito encontrar uma alma gêmea. Buscava, ao meu modo meio esquisito, encontrar alguém que também houvesse caído da nave espacial. De fato eu a encontrei, mas uma paz danada me veio quando li um livrinho sobre almas gêmeas, e nele a autora dizia que é muito mais freqüente que encontremos almas gêmeas amigas do que um parceiro sexual. O que ocorre é que introjetamos e encampamos a ideia de que a metade da laranja deverá ser um parceiro amoroso; forçamos a barra para que amigos se tornem amantes. Com essa lente, silenciamos diversas potências de encontros de almas irmãs. Ao ler que podemos ter várias almas gêmeas simplesmente no campo das relações fraternais, isso me deu um alívio enorme, uma alegria e paz interior. Me fez perceber um outro desenho de e em minha vida.
O porquê de estar aqui, por exemplo, tão longe de casa. Um dado pragmático: vim a trabalho. Isso empobrece muito a coisa. Mas quando eu penso que eu vim aqui para encontrar a minha alma gêmea sem saber disso, e que eu a encontrei, e que ela não é o meu parceiro amoroso; quando eu reconheço que existe alguém em cuja companhia minha alma sente que o tempo não existe, isso ressignifica tudo, a falta de tempo, as trajetórias distintas, a visão de mundo, a solidão - diferenças sempre enriquecedoras. Em nossos encontros mensais, tudo é descoberta, reencontro, tudo é muito pequeno, ao mesmo tempo que grande." CLAUDIA FRANÇA

E aí vem você, todo dengoso e cheiroso Roça meu pescoço, você é habilidoso Sabe sussurrar em meus ouvidos Palavras que fazem meus pêlos e...