domingo, 17 de setembro de 2017

E aí vem você, todo dengoso e cheiroso
Roça meu pescoço, você é habilidoso
Sabe sussurrar em meus ouvidos
Palavras que fazem meus pêlos eriçar
Não se deixa levar pelo meu jeito birrento
E dá aquele sorriso de moleque levado
Sabe que é tarde, eu não aguento
Ainda dou de ombros
Acreditando que ainda há o que caçar
Você me puxa de leve é só me abraçar
Fui enfeitiçada apenas com o olhar
Lanço fora o último argumento
Besteira é perda de tempo
Para que sabotar se o que quero é brincar


Menina dos olhos tristes
Que insiste em os fazer brilhar
Que olha no seu entorno
Faz qualquer um se enamorar
De sangue e alma quentes
Quem não quer se apaixonar
Envolta nos seus encantos
Menina dos olhos tristes
Eu quero te namorar

domingo, 9 de julho de 2017

Supus que era amor
Algo nascido em minhas entranhas
Lá, nesse lugar escuro,
Em que visitar não é uma decisão fácil
Brotam sensações que danificam o corpo
Que dão vida a esse corpo
Ora suores e tremores
Ora dor aguda que chega ao insuportável
Não pode ser amor o que causa dor
Você foi o pior e o melhor
Destruiu em mim o que ainda poderia ser salvo?
Vago entre a tristeza e a desilusão profunda
Afasto-me justificando proteção
Não tolero... Tristeza em profusão
Não quero... Medo, prostração
Mundo... Libertação
Se me separo de mim
Para me libertar de ti
Extirpo você e sangro
E na metamorfose de existir
Permito-me te destruir
E ergo das cinzas que ora me tornei
Alço voo e plano sobre seus cacos
O tempo em pó te transformará
E outra vez, mais uma vez
Volto e me refaço
Na arte de me moldar
E de me contemplar
Supus que era amor
E era...
Não você, insignificante ser
Eu, somente eu
                    [A única razão para amar...]

sexta-feira, 30 de junho de 2017

É estranho não te ter mais nos pensamentos
Não há sorrisos, não há devaneios, não há nada
E do nada que sempre foi será que ainda
Resta um resquício do que se fantasiou?
Não, nada... Silêncio constrangedor
Questiono o tempo que se fora perdido
Por que tanto foi gasto?
Esse abandono é que dói
Não do ser que se pensou amado
Mas do que se fez fantasiado
Agora quando entre nuvens o sol aparece
É apenas brilho intenso ofuscante
As borboletas voaram para lugar distante
Resta apenas um pequeno ponto de distração
Foi você o meu rompante de paixão
Ou mera e descuidada desilusão? 

quinta-feira, 29 de junho de 2017



Por dias e horas vou me afundando no delírio
Esmago em mim o desejo alucinado
É parte desse corpo essa forma que não deforma
Custou-me o entendimento
Dói dor doida da realidade
Antes fantasia e falsa alegria
Hoje tristeza marca da ausência
Coração que partido não retorna
Sangra como rio que vai para o mar
Não é paixão, fogo desejo de amar
Tão pouco amor que ensina suportar
Não há nesse corpo razão
Fragmentado espalha se pelo ar
Sai de dentro para melhor enxergar
E não há nada que se possa olhar
Dói dor doida do desejo de amar

domingo, 2 de abril de 2017

Sempre andei pela periferia dos sentimentos
Não me aportando em nada ou ninguém
Dei azar de ancorar em um espaço disforme
Quase sucumbi em meio a tantas fantasias
Chorei rios por dias, alaguei meus espaços vazios
Martirizei o corpo querendo sufocar a dor
Iludi dia e noite chamando de amor
Passei dias, meses e anos nessa prisão
Alimentando-me do que jurava paixão
Já em frangalhos, arrastando os trapos da solidão
Senti um sopro leve que vinha de longe
Uma brisa suave chamada razão
Num último suspiro de força
Dei o salto para minha libertação
Quebrei a corrente, soltei as amarras
Sem olhar para trás flanei
E a escuridão para sempre deixei




E fui te inventando por que era preciso
Não me sabia quem  era
Mas conhecia as minhas dores
Ora alucinadas ora despidas de sentido
E fui te criando como especial
Era meu refúgio lugar de abrigo
Sorria o sorriso de quem não entende
Que real é estar sempre presente
E amanhecia coberta de esperança
Desconhecia ser pura expectativa
Algo fantasiado nas entranhas
Fugas do monstro assolador
E fui te inventando
Iludida acreditava estar amando
Era um desejo de ser outra não eu
Não era o reflexo o meu desejo
Estranha não me reconhecia
E fui te inventando
Era a única forma de ser lúcida
De repente fumaça
Desvanecendo no tempo
O que era passível de verdade
Restam apenas fragmentos embaçados
Aos poucos caem no esquecimento
Mas te inventei porque era preciso
De amor andei  falando
Foi nesse refúgio que acabei me encontrado

domingo, 19 de março de 2017


Metamorfose de Narciso - Salvador Dali - 1937

Vago em mim no abismo absoluto
Há uma confusão latejante
Na busca de respostas
De perguntas sem sentido
Pura imaginação
Fantasias que distorcem a realidade
Machucando um corpo
Que se contorce inundado de dor
Qual entardecer me confundo
No crepúsculo querendo anoitecer
Misturo emoções sofrimento euforia
Ora choro pungente ora histérica alegria
Alma que sofre numa busca infinita
Envelhecendo nesse corpo
Que arde noite e dia
A pele pálida o coração em brasa
E de novo amalgamada... Aprisionada...

quinta-feira, 16 de março de 2017

Meu telefone morreu há alguns dias, sem nenhuma chance de recuperação. Trabalhou arduamente, mas a  obsolescência programada não perdoa, e quando você tenta viabilizar algum conserto para evitar gastos maiores, descobre que o valor do conserto é quase o mesmo de um aparelho novo. Com o feriadão de carnaval me dei o direito de esperar para adquirir outro telefone. Como não viajo nesse feriado e gosto do sossego da minha casa, me vi quase distante da tecnologia o que foi interessante. Quase porque precisava receber algumas informações importantes e o único meio era o e-mail, que hoje em dia quase ninguém gosta de usar, ou pelos chats de bate papo Messenger ou Hangouts. Descobri que o Instagram tem chat de bate papo nunca percebi a existência desse recurso, se não é um amigo me chamar ficaria na ignorância (rs).
O mais interessante é saber o quanto ficamos a mercê dessas tecnologias. Uma amiga veio em casa, quase enlouquecida, querendo saber quando iria comprar outro aparelho, que ela tinha dois e ia me emprestar um até eu efetuar a compra, porque era IMPOSSÍVEL eu ficar sem telefone, como ela ia falar comigo, e se ela tivesse uma crise existencial e precisasse conversar, a quem ela iria recorrer. A fiz sentar, se acalmar e perceber que estávamos ali, juntas, olhos nos olhos, conversando, e que o telefone havia perdido todo o sentido, ela me abraçou e disse "amiga eu te odeio" (rs).
Precisei falar com um professor e descobri que o número do telefone dele estava nos contatos do meu telefone morto e que não havia me dado ao trabalho de fazer um backup dos meus contatos. Não sei de cor o número do telefone de ninguém, nem da minha melhor amiga, que nos falamos todos os dias, duas vezes por dia. Um erro que preciso corrigir.
Ouvimos as pessoas pelo áudio ou vídeo do WhatsApp, nunca temos tempo de estar ao vivo com alguém, porque arrumamos tantas coisas para fazer que esquecemos como é bom sentar, tomar um café, cerveja ou vinho e bater papo. Nos tornamos meros participes de coisa nenhuma. Uma troca de mensagem, um compartilhamento de algo engraçado, ou até sério. Nos escondemos atrás dessas maquininhas e nos poupamos de vivenciar tristezas, amarguras, problemas. Evitamos o óbvio porque achamos que assim estamos a salvo de nos magoar. Criamos diálogos gigantescos quando não recebemos respostas de uma msn enviada, porque se quer paramos para pensar que do outro lado existe um ser humano com seus problemas, tempo apertado, desejos outros e que se não responde é porque não quer ou tem outras coisas para pensar, simples assim. E fantasiamos porque, embora escondidos, queremos ser notados.
Mesmo tendo avisado que não tinha telefone, recebi reclamações e cobranças, fui julgada e criticada, de fria e hipócrita a outras besteiras do gênero. Nem sabia que era tão necessária assim, e não sou.
Contudo, mesmo quebrando a cabeça para tentar localizar algumas pessoas, percebi que o telefone, instrumento útil para as horas necessárias, não me fez a menor falta.
Enquanto concluo esse texto posso dizer que já tenho outro aparelho, vai levar um tempinho até conseguir resgatar os meus contatos, mas tem alguns que nem sei se vale a pena trazer de volta à vida...



terça-feira, 14 de março de 2017

Sofro de amor antigo e nesse caso
Não por acaso, recorro a um sábio
Que de amor tudo sabia

"Ao Amor Antigo
O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor"
                 [CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE]


quarta-feira, 8 de março de 2017





Expansión: escultura da america Paige Bradley


O feminino que se vê castrado
Não se limita, pois não há nada a perder
Se permite brincar
Seu gozo é real
É alívio ao seu desamparo
Enquanto finge ser falo do homem
Este finge ser o que lhe vai dar
A mulher que sabe brincar
Com o objeto de desejo do outro
Tem consciência do seu feminino
Não se identifica com a fantasia
Verbalizada daquele que lhe deseja
Mas a vive com intensidade
Sem deixar que lhe roubem a sanidade
E goza o gozo absoluto
Esvaindo-se no mel
Do ato, por fim, resoluto...






sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017


Foto: Mauro Marques

Te levei para a cama ontem
Já era madrugada
Quando nos jogamos nos lençóis
Rolamos de um lado para outro
Afoitos e impetuosos
Pele suor e seiva
Lasciva
Gemidos altos prazer
Gozo
Depois silêncio 
Aninhei-me em meus braços
Adormeci


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Foto: Mauro Marques

Não me interesso mais por você
Perdeu a graça
Deixou de ser interessante
Não mais coração pulsante
Nem estômago borboleteado
De você me sinto cansado
O tempo foi se desvanecendo
Mas nem por isso te esquecendo
Talvez a memória tenha significado
De um nada por muito alimentado
E a sua permanencia em mim
Ainda que em estado de sonolência
Seja apenas a do objeto desejado
Brinquedo de menino mimado
Após uso descuidado
Vai para o canto, esquecido, quebrado
Vez ou outra retoma a ele
Não por desejo prazeroso
Mas pelo momento tedioso




sábado, 11 de fevereiro de 2017

Sempre fui uma boa ouvinte e boa observadora. De uns tempos para cá meus ouvidos têm sido bastante solicitados. Quando descobrem a especialização a qual seguirei então desbloqueiam o botãozinho da insegurança e da-lhe insatisfação.
Ouço todo tipo de argumentação que vai desde a falta de apetite sexual até a raiva que sentem só de pensar que têm que transar sem vontade.
Estava no salão que fraquento, e normalmente vou num horário que não tem quase ninguém, mas nesse dia estava lotado. Fiquei ali sentadinha e bem comportada aguardando meu horário e uma ou outra puxando conversa querendo saber da semana, do semestre apertado até que alguém pergunta que curso faço, bastou (rsrs), e ficou ainda melhor quando minha manicure disse que seria sexóloga e das boas (tomara que sim). Alguém disse que em breve iria para São Paulo e precisava dar uma turbinada na beleza porque iria encontrar com um "amigo", e que o marido nem sonhava que ela iria se encontrar com o cara. Soltei, com toda espontaneidade que me é nata, que acreditava que toda mulher deveria ter um amante. Olhares arregalados, sorrisinhos cúmplices, cara fechada, "que horror". Diante das diversas reações justifiquei que uma mulher com amante ou com a possibilidade de um está sempre linda, se cuida, está sempre cheirosa, bem arrumada, o sexo com o marido, namorado, ficante ou seja lá que tipo de relação tem é sempre mais gostoso. Não precisa mais pensar no Richard Gere ou no Brad Pitt na hora do sexo, nem torce para que acabe logo e possa correr para o banheiro para tomar banho e se enfiar no pijama gigante e dormir. 
O amante dá a possibilidade à mulher de se sentir mulher, de gostar dela mesma, ainda que ela pense que é pro outro, na verdade ela está fazendo para ela mesma, ela sente prazer em se olhar no espelho, gosta de se tocar porque imagina como seria com o amante e a consequência é que ela vai se descobrindo, descobrindo quais partes do corpo lhe dão mais prazer, onde gosta e como gosta de ser tocada.
Uma não resistiu e soltou junto com uma gargalhada deliciosa, "agora entendi Jackie porque me sinto tão gostosa"... (rs). 
O homem ter uma ou várias amantes é normal. faz parte da cultura dele, ao passo que uma mulher ter um amante é coisa de vagabunda, mulher "honesta" não faz isso. Quanta hipocrisia, vejo e ouço relatos de casais que poderiam ser muito mais felizes se se permitissem ser mais livres dessas amarras sociais. Há casais que se bastam, são livres dentro da relação que têm, são felizes assim, outros precisam de outras pessoas para dar mais calor a relação, vivem sua liberdade cúmplice e verdadeira. Para mim isso é NORMAL e essencial para uma convivência saudável. Mas o que eu penso e o que o ranço cultural impõe vai muito longe.
Mas não precisam entrar em pânico, tão pouco me olhar como se estivesse falando uma heresia, a história vai nos dizer que isso nem sempre foi tão estranho assim. Mas um amante não precisa ser necessariamente ser um homem ou uma mulher, pode ser um livro, um filme, um amigo, um lugar, qualquer coisa que lhe dê prazer.
Vivi um casamento de 19 anos onde o sexo foi ficando cada vez pior por conta de pesamentos antiguados e cheios de regras, nosso discurso distanciando e quando vi estava ali com um homem que havia escolhido viver baseado no que os outros pensam, no ter, nas aparências e na total falta de respeito por mim e pela pessoa que sou. Depois de muitas tentativas frustradas de fazer dar certo desisti, o problema não era eu, o que me levou a assinar minha carta de alforria e correr atrás do que me faz bem e feliz.  
Uma pergunta que me fazem com frequência é se tenho algum amante, digo sempre que sim. Tenho pessoas lindas e que tornam a minha vida muito mais colorida e agradável, mas também tenho meus livros que me levam a viagens maravilhosas, meus filmes, meus amigos, as músicas que fazem partem da minha história de vida nesse planeta. São pequenos pontos de luz que vão iluminando minha longa jornada e sou muito grata pelas pessoas que chegam e que me permitem evoluir como ser humano.
Não sou perfeita, tenho muito a aprender, o que faço é apenas dar sugestões de possibilidades. Longe de mim dizer o que alguém tem que fazer, mas saber fazer escolhas é o primeiro passo para uma vida mais harmoniosa. Se eu sei o que me agrada, dá prazer e me deixa mais leve, isso me possibilita manter relações mais saudáveis com aqueles que fazem parte dos meus círculos sociais.
E continuo oferecendo meus ouvidos a quem desejar, não estou aqui para julgar ninguém. Ter alguém a quem se possa confiar na hora de por para fora suas angustias é reconfortante, é um alívio à alma...
Hoje a tristeza chegou como que alucinada
Parece criança birrenta querendo colo
Sentou-se ao meu lado e está insuportável
Estou com raiva, muita raiva
O peito arte e pede trégua
Grita, diz ele num sussurro mudo
G R I T A
Não dou ouvidos, não quero agradá-lo
Busco espaço, da tristeza me afasto
Qual nada, ela é bicho insistente
Se achega mais perto, gruda igual carrapato
Essa tristeza persistente
Nem de longe imagina
O que esse coração sente





Amo você pela insistência
Do ser que se faz amado
É leve amá-lo assim
Não tem hora, não tem dia
Não há obrigação nem paixão
É vento leve em manhã de primavera
Brisa fresca em tardes ensolaradas
Suspiro em noites enluaradas
Você é pássaro que não precisa gaiola
Não me pertence é alma livre
E quando a chuva chega
Mansa e musical
Aspiro teu ser no ar
Absorvo o meu viver
Porque é doce amar você






E aí vem você, todo dengoso e cheiroso Roça meu pescoço, você é habilidoso Sabe sussurrar em meus ouvidos Palavras que fazem meus pêlos e...