quarta-feira, 28 de dezembro de 2016


É madrugada, acabo de assistir Café Society, um filme de Woody Allen. Aquele filme que você começa a assistir por acaso, quando a insônia insiste em te fazer companhia, mas que aos poucos vai te conquistando e quando se dá conta você está ali se embebedando de cada cena.
Ao final, completamente desperta, sinto uma necessidade desmedida de escrever, e as palavras saem sem o menor pudor.
Você me veio a mente, como lembrança que se quer esquecida e guardada na última caixa bem lá no fundo sem qualquer tipo de acesso, mas que a um simples toque flutua até você e se expande revelando o que você se esforça para esquecer. Aquele desejo impossível de ser saciado.
Enquanto meus dedos tamborilam o teclado, ouço Manhattan uma das trilhas do filme, tão delicada e forte ao mesmo tempo, fecho os olhos e lá estamos, juntos, dançando ao som de um piano que faz parecer que tudo é real, mãos que se tocam suavemente, seu cheiro misturando se ao meu, pele com pele. Assim, em êxtase, embarco nessa viagem de sonho, onde tudo acontece, tudo é possível e você é real, nela não exite distância, não existem outros, nela somos apenas você e eu e te toco como em tempos outros, lembranças vividas que, como memórias, difíceis de apagar.
Giro na madrugada e ouso a me permitir cantar, embalada por cada acorde  percebo em mim um ser que se pega sorrindo.
Há uma inscrição no cartaz do filme que diz: "Anyone who is anyone will be seen at Café Society" . Sim , me vejo em algumas cenas do filme e, talvez por isso, ele tenha me tocado tão profundamente. " É Woody, devo concordar com você "essa vida é uma comédia, escrita por um sádico"


quarta-feira, 7 de dezembro de 2016


                                          ONTEM                                         HOJE

Estou a um passo de ver a luz
Aqui já está apertado, sinto-me incomodada
Passei por tantas experiências sonoras
Sons abafados estranhos
Sons de vida que flui
Meus olhos estão fechados
Tenho a percepção de tudo
Balanço de lado a lado
Um corpo moldado
Nesse espaço molhado
Sinto dores, alguém lá fora também
Não compreendo nada
Mas sinto tudo
De repente sons saem da minha boca
Sinto algo diferente contato de pele
Ambiente estranho confuso
Sou passada de mão em mão
Angustiantes momentos
Fica parte fica parte
Depois silêncio
E assim a vida que se faz em mim
Carregada de dores, tristezas
Alegrias euforia sensações
Passou por seus estágios necessários
Caminhos longos nessa estrada
Que não sei aonde vai dar
Chego nesse tempo que é agora
Guardo lembranças
Mas não me apego mais ao tempo
Se hoje é meu presente
Que ele venha embrulhado
Num belo pepel de seda
 Com linda fita vermelha

domingo, 13 de novembro de 2016


Foto: Aldo Pedrosa
Tela do artista cubano Alexis Iglesias que tive a honra de fazer o texto crítico e está no livro
Obras comentadas: doação a coleção do MUnA, organizado por Andrés Hernandes.

Como dois encontros, com grupos de diferentes pessoas, podem promover reações em nosso corpo. O primeiro, um grupo de mulheres de faixa etária diferentes, me fez sentir o ser mais estranho do planeta, o silêncio que se fez em mim era quase um grito por ar puro. A conversa girava em torno de roupas, sapatos, academia, filhos, comida, fofocas de TV, homens, um verdadeiro festival de hipocrisia, preconceito e futilidades. Uma delas questionou por que eu não fazia academia, iria me ajudar muito, e com certeza eu envelheceria com muito mais qualidade de vida. Não discordo dela, só não suporto academia. Mas a parte mais engraçada foi ela me dizer "pensa Jackie, você chegar aos 50 com tudo em cima, durinha, com corpinho de 30..." Fiquei entre dizer que eu já tinha 50 com corpinho de 30 e me manter calada. Mantive-me calada, com aquele meu olhar cínico e dissimulado, que quem me conhece sabe o quanto é perturbador. Outra me questionou a falta de um namorado, e como eu conseguia ficar sem homem "isso é um absurdo, eu não consigo passar uma semana", mais uma vez o silêncio se fez mim. Sair "pegando" todos por aí, sem a menor noção de responsabilidade e respeito por mim mesma não faz parte da minha relação com a vida.
Meu olhar ia de uma a outra sempre pensando em que mundo essas mulheres habitavam, que certezas eram aquelas de felicidade trabalhada na academia, no casamento, na maternidade, no dinheiro jogado fora com coisas tão supérfluas. Ora ou outra meus lábios se mexiam e alguns sons saiam como: é... pois é... uhummm... monossílabos e apatia. Me esforcei ao máximo para me manter naquele ambiente que, com toda certeza, não me pertence mas que é um excelente laboratório para análise de personalidade,  mas ao final de uma hora já estava esgotada, pedi licença, cumprimentei a todas e fui embora com um sentimento de vazio, de ausência de energia, como se toda a energia do meu corpo tivesse sido drenada, estava sonolenta, pesada e com dores.
O segundo grupo, muito mais diversificado, começou com a abertura da exposição do MUnA, seguiu para um restaurante, e terminou numa cervejaria. Passamos juntos mais de 6 horas, havia uma troca de conhecimento, ninguém tinha certeza de nada, mas havia o desejo constante de evoluir. Ali estavam indivíduos que se permitiam estar presente com o outro. Os assuntos variavam da política e economia atuais do país, passava por filmes e séries, viagens, livros, muita risada, reflexões interessantes, a alquimia da cerveja e a tão estimada filosofia de boteco, como diz Rodrigo "no fim tudo acaba em morte..." e é verdade, podemos fazer tudo o que quisermos, viajar, trabalhar, fazer planos, mas a única certeza é que um dia iremos partir para outra dimensão. Durante todo o tempo que passamos juntos, NINGUÉM pegou o celular, NINGUÉM reparou se o outro estava bem vestido ou não, NINGUÉM questionou as escolhas do outro. 
Cheguei em casa quando o dia despertava com suas cores e perfumes, enchi um copo de água e enquanto bebericava fiquei ali sentada, observando o céu mudando de cor, estava feliz, energizada, relembrando aqueles momentos que me foram tão caros. Nem o cansaço dos últimos dias, ou o estresse pré abertura de exposição me abateram. Havia em mim o sentimento de dever cumprido e a certeza de que é preciso estar com pessoas que nos agreguem valores, que nos possibilitem ver a vida com muito mais cores, com muito mais luz. É importante respeitar as escolhas e opiniões alheias, mas é muito mais importante nos manter mental e fisicamente saudáveis, e são nossas escolhas que nos permitem viver com brilho nos olhos e sorrisos na alma. 
Entre o primeiro e o segundo grupo, não há a menor dúvida fico com o segundo, as sensações deixadas no corpo foram de leveza, relaxamento e profundo respeito pelo ser que habita em mim.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016


Em um aniversário escuto o seguinte comentário "Jackie, que linda você está, e essa pele, está perfeita", respondo: é o amor... 
Em seguida a minha resposta vem a expressão: "Sabia, o amor rejuvenesce... fico muito feliz por você, precisa nos apresentar esse homem..."
Incrível como vivemos ainda em uma sociedade que acredita que a jovialidade e a "pele bonita" de uma mulher só são possíveis graças a um homem. Poderia ter dado algumas respostas diante de tal comentário, mas agravaria ainda mais a minha situação de mulher que não precisa de homem para viver.
Como tenho o péssimo hábito de observar mais que dar opinião, passei um bom tempo observando as mulheres e seus companheiros. Ali estavam "belas, recatadas e do lar" prontas para representarem seus papéis de mulheres dedicadas, trabalhadoras, boas mães e responsáveis. Ali estavam mulheres que observavam seus homens na expectativa de um comentário a seu favor, um toque carinhoso, um olhar apaixonado. Ali estavam os homens bebendo e comendo como animais que são, ordenando a suas mulheres para prestarem atenção a seus filhos, "fulano está no brinquedo vá lá ver", "siclano não comeu arruma alguma coisa pra ele", "pega uma cerveja pra mim", "estou com fome, me faça um prato"... E lá vão elas, obedientes, domesticadas e felizes por poderem contribuir para a felicidade de seus homens. Não as julgo, de forma alguma, muitas são felizes assim mesmo e as respeito por isso, mas não é o meu caso. Ali estavam figuras que conheço muito bem, que têm suas vidas paralelas, mas que na sociedade em que vivem passam a imagem do homem sério, responsável e provedor. Também não os julgo por isso, cada um faz as escolhas que quer, não é problema meu.
Um desses seres sentou-se ao meu lado e veio logo dizendo que precisava conhecer "o cara" que estava me deixando tão bonita, porque precisava aprovar ou não meu relacionamento... Como a intimidade é uma merda, respondi que não era ele, era ela e fiquei admirando a sua expressão de incredulidade, quase ri, mas precisava manter o meu tom irônico de seriedade, que modéstia a parte sou muito boa. Então não era um homem que estava me deixando bonita era uma mulher, como se eu não tivesse a capacidade e a competência de ser bonita por minhas próprias mãos e da minha dermatologista querida, é claro.
Em nenhum momento me foi questionado se o motivo de "minha beleza" estava relacionado a minha forma de viver, aos cuidados que tenho com meu corpo, a forma como levo a vida, mas sim que a única razão só poderia estar vinculada a uma outra pessoa, homem ou mulher.
Há muito tempo não preciso de homem para ser bonita e feliz. Gosto muito de homens, como diz Cher, são tipo sobremesa, e eu adoro sobremesa. Mas a única responsável pelo meu bem estar sou eu mesma. Com meio século de existência não preciso de joguinhos, escolho com quem quero ficar e se quero ficar. Faço o que me dá prazer, falo com quem me dá prazer, dou atenção a quem admiro, gosto e desejo que esteja  na minha vida, independente da reciprocidade. Posso parecer egoísta, fria e distante, mas apenas escolhi viver de acordo com o que me dá bem-estar e não vivo para agradar a ninguém.
Quanto aos comentários da noite passada fica a sensação de que ainda precisamos evoluir muito para sermos realmente compreensivos e amáveis para com o outro, aceitá-los como são, com suas diferenças, valores e escolhas. E me divirto com as questões que ficaram soltas no ar, será que ela é? será que ela não é?... E a vida segue, cheia de altos e baixos...

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Interagindo com a obra Linhas de Fuga
 do artista Emilliano Freitas


Sou o que em mim se faz
Levei tempo demais para essa construção
Ocupar o espaço que me cabe
Já sofri e sofro tanta dor
Que não admito mais
Ver-me trancada em caixas
Pensando se isso é certo
Se aquilo é errado
Evitar dizer o que tenho vontade
Pelo medo do que pensarão do lado de lá
Do lado de cá pouco importa
Se o tempo é pouco demais
Quero aproveitá-lo o máximo que puder
Esse reflexo se faz presente a cada segundo
É o aqui que me dá esse lugar
Memórias têm o seu espaço
Nessas caixas empoeiradas de tempo
                                    [E lá devem ficar]
Futuro só depende das sementes
Que nesse instante eu semear
Amo, um amor que não corresponde
E ainda assim amo
Pelo prazer de sentir
De ver meu corpo pulsar
De gozar esse amor
Pelo simples ato de pensar
Não me iludo com fantasias mudas
Opacas e muito mal desenhadas
Brilho com as fantasias animadas
Que me dão fogo, tesão e desejo
Saber-se quem é demanda tempo
Mas é libertador, ainda que não sufoque a dor
Ontem falei de tesão, exalei desejos da carne
Hoje lambuzo me de amor
Não me enquadro em regras
Isso me impede ser fiel
Pois que só paixão pede fidelidade, apego
                                                       [Caixas...]
Sou um mísero grão ocupando
Lugar temporário
Não me confundas com a insana fria egoísta
Que ainda um pouco narcisista
Parece de todos querer se afastar
Às vezes figura etérea
Obrigada a habitar essa matéria
Mas não mais agrilhoada
Minh'alma é livre
Meu corpo é livre
E o amor que dou é livre
Como livre é o ato de ser
Inquieta por pura necessidade
Incapaz de viver sem liberdade












terça-feira, 23 de agosto de 2016

Foto manipulada através do Prisma

Gosto da minha companhia
Gosto hoje mais do que gostava ontem
Gosto de saber que minhas imperfeições
Não me adoecem ao ponto de exigir
Daqueles que me cercam a sua presença
Gosto de me olhar no espelho 
E de fato me enxergar
Gosto de acariciar meu corpo
E sentir em cada toque
A maciez e a doçura da pele
O prazer de sentir se amado
Gosto do meu cheiro
Da imagem que aparece refletida
Brinco com os vincos feitos pelo tempo
Danço, sorrio, canto e viajo
Gosto do eu que se faz em mim 

sábado, 20 de agosto de 2016

Naquele dia podia ter dito a ele
Que o esperava com ardor
Que meu corpo o aguardava
Quente e sedento de amor
Naquele dia podia ter dito a ele
Que passara a noite em claro
Desejando que a noite partisse
Para que o novo dia o trouxesse
Naquele dia podia ter dito a ele
Que desejava vê lo junto com a aurora
Que sofreria quando fosse embora
Que o tempo não passaria
Naquele dia podia ter dito a ele
Mas apenas o silêncio e poucas palavras
Junto a gestos e atitudes distantes
Inundaram o espaço impessoal e claro demais
Dois estranhos buscando um no outro
Aquele e aquela que separados
Pareciam perfeitamente indissociáveis
Naquele dia podia ter dito a ele
Naquele dia não disse nada
Naquele dia...


quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Foto manipulada pelo PRISMA

Dou preferência a um sorriso
Mas nunca desprezo um olhar triste
Mesmo que não direcionado
Há muitas lágrimas disfarçadas de lábios abertos
É no olhar, no jeito que os olhos se mostram
Que se esconde a emoção profunda
Sempre escondida atrás de um coração maltratado
Que de tão machucado se encontra  cansado
E o silêncio que chega é prenuncio de despedida
Quando ele chega, o amor vai embora
É nesse sorriso que deposito meu sentir
Nada mais dolorido que lábios em arco
E olhos que não sabem mentir...

quinta-feira, 28 de julho de 2016



Eu tive um caso, não sei se foi de amor
Foi um arrepio que começou nas profundezas
E aos poucos tomou conta do corpo inteiro
Eu vivi um caso, não sei se foi de amor
Foi ebulição transbordando alma e coração
E de repente era tudo emoção
Eu chorei por um caso, não sei se foi de amor
Minhas lágrimas brotavam a cada desilusão
E caiam como cascata em dia de chuva
E o frio as mantinham congeladas
Não sei se foi de amor, mas o caso
Que não por acaso, mudou meu interior,
Entre sorrisos e lágrimas suspeito
Que esse caso, encapsulado para não adoecer,
Foi e sempre será de amor...



domingo, 12 de junho de 2016

N[amor]ado
Um mergulho profundo
Nesse universo mágico
Do primeiro encantamento
Nadar nas águas calmas
Desse ser fantasiado
Na[mora]do
Abrigar-se da realidade
Adormecendo nos braços de Eros
E sob a mistificação amorosa
Cair no profundo sono criado
N[amor]ado
Sentimento alado
Que pincela de euforia
E transforma tudo em alegria
N...infinitamente natural
Amor ... que transcende o real
Na busca infinita do universal
Ado... ecer quando já não sou eu
Mas a parte do outro que me consome
Na[mora]do
Namoro o amor que mora dentro de mim



sexta-feira, 10 de junho de 2016

Todos nós estamos em busca do amor romântico
Que não nos faça chorar
Que não nos faça sofrer
Que seja sempre sorrisos, beijos e flores
Que mantenha a cama sempre quentinha
Que o sexo seja incrível
Que as brigas jamais aconteçam
Todos nós buscamos aquele ser mágico
Que não envelhecerá jamais
Que não tem defeitos
Que acorda com um belo sorriso
E aquela alegria que é como a primavera
Que não perde tempo discutindo a relação
Que não tem ciúme ou desconfiança
Que apareça no fim da tarde com um ramalhete de rosas
Ou um convite para desfrutar o amor
Quando nos apaixonamos pelo outro
Tornamo-nos cegos diante das diferenças
Surdos para o que não queremos ouvir
Calamo-nos diante de angustias
Passamos a alimentar esse ser fantástico
Que criamos e não queremos que desapareça
Diante do que a realidade tenta mostrar
Projetamos no outro nossas faltas e carências
E quando o outro se revela
Revela-se também em nós nosso egoismo
Nossa raiva de não suportar o que de fato é
Esquecemos de nós e descontamos no outro
A frustração, o desamparo a desilusão
Não é o outro que mudou, se transformou
Somos nós que depositamos nele/a
A responsabilidade de nossa felicidade
A busca do amor precisa começar
Primeiro em nós, nos apaixonando
Pelo ser que somos, com defeitos e qualidades
Nos aceitando e acreditando no ser de luz que somos
Só assim é possível amar o outro
Não transformando dois em um
Mas amando o que brilha e o que escurece o outro
Cada ser carrega sua própria luz
Cabe a nós escolhermos em qual espaço queremos nos abrigar
No que nos dá paz e tranquilidade
Que aquece nossa alma
Ou no que nos ofusca os olhos e confunde real com imaginário.
Amor não é troca, é doação, é liberdade
Amor é como pássaro livre
Sempre haverá um galho para pousar
Mas suas asas jamais deverão ser quebradas







quarta-feira, 1 de junho de 2016

Virando flor na obra "Estar" do artista Leandro Dário

E da dor me transformo em flor
Metamorfose ausente de pudor
Do líquido espesso e sem rigor  
Essa mistura de corpo e flor
Se vê viva ao se expor
Não há qualquer resquício de rubor
Não se compra, não tem valor
É mulher
É flor 
                                            [independente de amor]
Mas se amor flor for
Me despetalo ao seu dispor



sexta-feira, 27 de maio de 2016


Quando um corpo feminino é violentado brutalmente
É certeza que falta humanidade numa sociedade
Viciada, hipócrita e que se safa impunemente
Homens que representam a podridão
O descaso, o desrespeito, o esvaziamento
Porque se sentem no direito de machucar
Denegrir, ofender e humilhar
Seres desprezíveis que caminham livremente
Assediam, "brincam", diminuem, batem
E consideram normal, porque são homens
São miseráveis escrotos, débeis criaturas
Habitando um corpo racionalizado
Agindo como bicho irracional
Não é o que vestimos, dizemos, fazemos
Não é o meu comportamento que dá permissão
O NÃO é imperativo sempre
O que uma mulher é
Homem nenhum tira
Mesmo machucada, humilhada
Consegue ser muito mais forte
Do que qualquer homem
Talvez por isso estejam despertando
Tanto medo e insegurança
Em uma grande parcela masculina
Que ao não reconhecer seu empoderamento
Buscam através da crueldade seu desmerecimento
É preciso viver bem na diversidade
Não existe melhor ou pior, existe o diferente
Homens e mulheres, juntos, com direitos iguais
Livres para serem o que desejarem
Para ir e vir como quiserem
Não há perdão para a desrazão
Uma sociedade humana e decente
Só se fará através da educação


sexta-feira, 20 de maio de 2016

E de nós dois sobrou apenas o silêncio
Frio e cinzento
Do que outrora chamei sentimento
Resta apenas reminiscências
Foi resposta dada ao que nunca existiu
Tão pouco ao que se desejou
Só silêncio
Ou momentos que se fingiu
Resta-me agora palavras soltas
Olhar perdido, coração desiludido
Foi meu o que de meu se plantou
Agora é só terreno vazio
Empoeirado de tempo
Aguardando que outras sementes
Ressurjam nesse lugar e frutifique
Se de nós dois hoje apenas árvore seca
Que amanhã o broto seja viçoso
Sem quedar-se esperançoso



quarta-feira, 11 de maio de 2016




Poema escrito para apresentação final do trabalho que meu deu tanto prazer em fazer "Educação em Direitos Humanos: Igualdade de direitos e valorização das diferenças, uma visão sobre os Grupos LGBTs".

Assumir a homossexualidade hoje é mais fácil do que já foi um dia, mas o preconceito ainda existe e continua sendo um empecilho para jovens que estão descobrindo a sua sexualidade.

A homossexualidade é legitimada na atualidade enquanto possibilidade de expressão do ser que se é, como indivíduo único e não como algo que se destoa e não corresponde ao que ainda tentam afirmar como normalidade, tão disseminado pela heteronormatividade com seus modelos eternizados pelas convenções moralistas . Não é caso de “cura”, mas sim de políticas públicas que viabilizem a promoção de saúde global a todas as pessoas homossexuais e heterossexuais.

A “cura” seria muito bem vinda para o fim da homofobia que descriminaliza, vitimiza e marginaliza gerando violência, injustiça e sofrimento para todas as pessoas.

Educação e direitos humanos precisam estar unidos para pôr fim a intolerância, ao egoísmo e ao medo. A partir do conhecimento das bases da construção da sexualidade como um todo, possibilitar que profissionais da saúde, educadores e comunidade discutam ações e promovam um diálogo mais aberto e consciente relacionado à diversidade sexual, estimulando a tolerância, o reconhecimento e a aceitação das diferenças e de diferentes formas de se expressar a sexualidade, e a partir daí promover o equilíbrio, o bem-estar humano e o direito de se amar em paz.

Só o respeito as diferenças poderá fazer de nós seres verdadeiramente livres. 

segunda-feira, 9 de maio de 2016








Desde o berço, você cria expectativas, sofre as frustrações, alimenta-se do melhor que a vida lhe oferece e com o avançar do tempo vai descobrindo o que vale a pena ou não manter na vida.

Com as pessoas acontece o mesmo, algumas não temos muita escolha, são necessárias à nossa evolução, precisam estar conosco em toda a nossa jornada. Outras permitimos que entrem em nossa vida, chegam, deixam um pedacinho de si e partem sem olhar para trás, mas tem aquelas que criam raízes tão profundas, que se uma única folhinha cair nosso coração chora rios.

Existem pouquíssimas pessoas que permito dentro do meu coração, pois são elas que quando mais preciso estão do meu lado, dando o colo e amor tão necessário para ajudar atravessar aqueles obstáculos que sem ajuda seria doloroso demais.

Da minha carne não saiu fruto, da minha alma e coração o mais belo dos presentes.

segunda-feira, 25 de abril de 2016


Foto: Mauro Marques

Não sou bonita
Muito longe de responder o padrão esperado
Meus traços são normais demais
Pernas longas desengonçadas
Pés grandes e mãos de dedos compridos
Uma pele toda desenhada
Ligando os pontos das pintas
Várias formas abstratas
O cabelo é uma mistura de cores
Perdeu-se há séculos o que um dia foi natural
Não há um corte preciso
É um amaranhado texturado
Não é liso, não é enrolado
Nariz pontudo, às vezes arredondado
A boca é grande, carnuda
Se avermelha só com uma mordidinha de lado
Bochechas gordinhas, salteadas
E os olhos, ah os olhos
Esses são como rio
Escuros, profundos
Neles abriga-se o mistério da minh'alma
Nessa profundeza a feiura se esvai
Ascende o que em mim se faz beleza
Transmuda o fantasioso no real





domingo, 17 de abril de 2016

Se não me queria
Por que me fez apaixonar?
Se não havia nada a oferecer
Por que me fez desejar você?
Se não sabia o que dizer
Por que me fez crer
Que sabia o que fazer
Se fui apenas brinquedo
Daqueles que não se guarda
Grandes lembranças
Por que mostrou em seu corpo
O conflito e a ânsia?
Me questiono o tempo todo
E não me liberto de você
Se não me queria
Por que me permitiu enxergar você?


quarta-feira, 6 de abril de 2016

Foto: Mauro Marques
Texto: Anônimo
No meio da tarde me pego pensando em você
Vasculho os guardados da memória
E em meio a recortes do tempo
Relembro um pedaço da nossa história
Namoro seu retrato disperso das horas
Combino traços, imagino abraços
E finjo que ainda temos agoras
Meus lábios se abrem em sorriso
Sinto na pele o toque... Na boca o gosto
Uma insanidade consciente daquilo que já não há
Retorno pesada de sentimentos
A raiz não foi arrancada
Você permanece em mim
É preciosa pedra na minha jornada


segunda-feira, 4 de abril de 2016

Hoje há um silêncio gritando em mim
É ensurdecedor
Distraio-me com os avessos da vida
E neles me embriago
Saio cambaleante, trôpega em meus devaneios
Inutilmente resisto
Há um turbilhão de pensamentos
Dançam alucinados em minha mente
Meu corpo vibra e já em transe
Abandona-se nesse mar angustiante
Não se preocupa em nadar para longe
Não há força, não faz sentido
Cansado, exausto esse corpo afunda
Mergulhado em si
Rostos, formas, risos, lágrimas
Falas entrecortadas, mal acabadas
E no externo de mim
Calmaria sem fim
É madrugada e ela em meio a nuvens
Acaricia meu rosto
Seca a lágrima que rola
O silêncio aquieta





domingo, 27 de março de 2016

Chorei tanto e por tantas vezes
Que o choro virou rio
Virou mar
Virou
Hoje o que escorre
Contornando os traços
Enrugados do tempo
É um amargo sentimento
Que deixa rastro
Contrasto
Pedaço
Nessa linha embranquecida
Que desenha caminhos
Num rosto sem brilho
Vivo de mim esquecida
Agarrando-me no pouco
Que ainda resta de vida

sábado, 5 de março de 2016

Foto: Mauro Marques


Minha casa hoje está mais tranquila
Nela habitam pequenos formatos de amores
Ainda que pouco organizados
Facilitam seu transporte aonde quer que eu vá
Hoje minha pequena morada
Está repleta de flores cultivadas
Regadas com luz e amor
Cada flor é pedacinho do meu caminho
Cada encontro uma semente
Que cuidada irá brotar e florescer
Hoje minha casa é a pele que habito
E dentro dela o que aceito e permito

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Foto: Autoria desconhecida


Deitei meu desejo no mar
Cobri com as espumas
E de meus lábios o vento
O sopro que o levou em viagem
Meus olhos eram os faróis
Na insana certeza de o querer
Um dia, quem sabe, voltar
Mas as águas escuras
Vez outra faz a luz se apagar
Ao longe vejo meu desejo navegar
Sento-me devagar com medo de o acordar
A luz prateada canta ao longe
Como se meu desejo quisesse embalar
E ele se vai... Uma onda o recolhe
O aconchega em seus braços carinhosos
Me olha por uma última vez 
E então se dissolve no ar
Não há mais rastros, nem espuma ou poeira
Afundou na cama perfeita
Não estarei lá caso algo o faça despertar
Deitei meu desejo no mar
E despedi-me para sempre
Da forma doce que me permitiu amar

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Viver Bem


Foto:Paulo Augusto

"Vive bem quem é dócil diante das adversidades da vida (doença, velhice, perdas materiais), consegue não se preocupar demais e tem bom humor.
Vive bem quem entende que os grandes momentos de prazer e dor são raros e que nos cabe cultivar os prazeres corpóreos e mentais disponíveis.
Os prazeres do corpo são o sexo, os esportes, a dança... São boas fontes de bem-estar, relaxamento posterior e ajudam a reduzir a ansiedade.
Os prazeres intelectuais, que nos ajudam muito a viver bem, são menos repetitivos: as músicas se renovam, assim como os filmes, os livros...
Quem se sente bem e tem conduta respeitosa em relação aos outros experimenta mais a sensação essencial para o viver bem: uma boa autoestima!
Vive bem quem conseguiu evoluir emocionalmente, é capaz de viver só e também ter elos sinceros com poucos e bons amigos e parceiros amorosos.
Vive bem quem tem ocupações agradáveis e tem no "fazer" uma importante fonte de satisfação; nesse caso, o tempo flui e isso é bem prazeroso.
Penso que viver bem não é muito complicado e nem exige glórias ou dinheiro a rodo: pede um cotidiano gostoso e algum projeto para ir atrás!" Flávio Gikovate

sábado, 20 de fevereiro de 2016





Da série: Existem músicas e músicos que ainda nos fazem acreditar que existe muita luz no fim do túnel. E LUZ é tudo que precisamos...

Eliane Elias, uma diva do Jazz que, muito pouco conhecida, não recebia o seu devido reconhecimento. Agora, com Grammy, ela vai decolar... BRAVO!!!!

E aqui na terrinha o nosso maravilhoso UDI Cello Ensemble, que sob o comando do Professor e Maestro Kayami Satomi só nos mostra que ainda há beleza na arte da música. Que Dionísio nos proteja a todos...




quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016


Foto: Mauro Marques

Minha vida é branco e preto
Mas às vezes é vermelho
Minha vida é branco e preto
E me vê por inteiro
É branco é preto
É matizado imperfeito
É junção de todas as cores
Branco
É ausência de todas as cores
Preto
Minha vida é preto
Minha é branco
Minha vida é preto e branco


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

M83 - Holes In The Sky


[...]
"I'm reaching closer
And stars dive on earth
Feeling up, lost in memories"
[...]

Em meio a tanta mesmice e idiotice na qualidade das músicas dos últimos tempos, é bom encontrar algo diferente, inteligente, que te leve além de interpretações banias e previsíveis.
Nem tudo que parece é o que de verdade é. Mergulhos profundos nem sempre te levam ao fundo.



Imany: The Good, the Bad and the Crazy



quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016



Foto: Mauro Marques


A única imagem que quero levar comigo
Quando da minha morte
É esse reflexo no espelho
Esse olhar profundo
Que demorou tanto à ser sustentado
É essa imagem sem cortes
Sem manipulação
Apenas a crueza de
Se permitir pela primeira vez
Olhar sem julgamento
Sem cobrança
Olhar com ternura
O que nunca se permitiu ver
Aceitar-se... perdoar-se...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Não é insônia apenas desassossego
Que chega feito raposa acobertada pela campina
É esse ardor no peito que faz a alma chorar
Choro embebido de incerteza      
Que bate com chicote e não perdoa
Não quero lágrima lavando rosto
Quero riso escancarado
Mas é na madrugada, na solidão sufocada
Que sou corpo e alma arrebentada
E choro esse choro que fica represado
E na escuridão da noite  
Sou apenas mais um do mundo escondido
Quero gritar com todas as forças
Mas sou apenas sussurro
E a noite lambendo meu rosto
Sopra lentamente em meus ouvidos
Sons que deveriam ser esquecidos

domingo, 7 de fevereiro de 2016




Sorrir...
A forma primeira de sustentar a vida
De seguir em frente na sua jornada
Sorrir...
Amenizar o que faz sofrer e tranquilizar a alma
Sorrir...
A chave que aferrolha o que se fez saudade
Sorrir...
Despir-se e banhar-se de luar
Deixar essa luz te lambuzar 
Sorrir...
E ainda que a barragem ameace romper
Sorrir...
A noite não dura para sempre
Há sol no alvorecer
É só se permitir ver
Sorrir...
                 

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

O beijo doce, a voz suave e tranquila
O toque que não precisa de palavras
E tudo se aquieta, o coração se acalma
É bálsamo que consola e ameniza a dor
Sinto não poder corresponder
Mas você não pede troca
Apenas me acolhe e embala
Canta aos meus ouvidos a canção
Que fez pra mim
Que fala de espera, de ternura
De desejar o outro com amor
Eu não sei o que é isso
Perdeu-se em mim o seu significado
Você não se importa com meu silêncio
Mas vejo brilho em seus olhos
E se há algo a retribuir
É contemplá-lo e sorrir




sexta-feira, 15 de janeiro de 2016


Imagem retirada da internet

Ah, parece certo
Mas o momento é errado
O lugar é errado
O tempo é errado
E você tem um rosto lindo
Os traços são encantadores
Mas é o rosto errado
Não é o rosto dele
Não se parece com ele
Até poderia dizer que sim
Que está bom para mim
A música que agora toca
É a música errada
O estilo está errado
No piscar de olhos 
Te vejo lindo
Seu sorriso é lindo
Mas é o sorriso errado
Não é o sorriso dele
Mas o seu é um belo sorriso
Estou feliz por nos conhecer
De repente sinto-me
Estranhamente atraída por você
E esses olhos, que lindos olhos
Mas não são os olhos dele
Tento em vão apagar uma memória
Quer esquecer alguém também?
Será que estamos jogando errado?
É o jogo errado com as fichas erradas
Sua boca é linda, e esses lábios...
Seus lábios são tentadores
Mas são os lábios errados
Não são os lábios dele
Mas são lábios provocadores
Acho que tenho um coração
Mas vou me guiar pela razão
Sinto tão próxima sua respiração
Seus lábios são tentadores
Mas são lábios errados
Quem sabe se estiver livre
Numa noite dessas...
Melhor não...
Embala o coração
E sobrepõe a razão
Mas...
São tão tentadores



segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Foto: Internet


Na eminência da morte nos agarramos a vida
Desejamos mais um tempo para fazer tudo
Que não nos permitimos antes
Queremos dar aquele abraço apertado
Que por orgulho ou besteira deixou que ficasse de lado
Queremos olhar nos olhos e dizer o quanto amamos
Na eminência da morte deixamos as exigência de lado
Achamos tempo para uma conversa sem pressa
Para aquele sorriso que tantas vezes ficou guardado
Descobrimos que as palavras saem com tanta facilidade
Que não há mais preocupação com o que irão pensar
Na eminência da morte descobrimos que não existe distância
Que o aqui e agora é o que dá sentido a vida
E o mais importante de todas as descobertas
Na eminência da morte perdoamos
Não esse ou aquele
Perdoamos a nós mesmos e no ultimo suspiro
Entendemos que esse perdão foi a chave encantada
Para abrir as portas da felicidade tantas vezes buscada.

"Quando chegar a hora de morrer,
Não seja como aqueles cujos corações são preenchidos
Com o medo da morte. que choram e rezam 
Por um pouco mais de tempo para viver
Suas vidas de uma forma diferente.
Cante sua música da morte e morra como um herói
Indo para casa." Chefe Aupumut

E aí vem você, todo dengoso e cheiroso Roça meu pescoço, você é habilidoso Sabe sussurrar em meus ouvidos Palavras que fazem meus pêlos e...