quinta-feira, 20 de outubro de 2016


Em um aniversário escuto o seguinte comentário "Jackie, que linda você está, e essa pele, está perfeita", respondo: é o amor... 
Em seguida a minha resposta vem a expressão: "Sabia, o amor rejuvenesce... fico muito feliz por você, precisa nos apresentar esse homem..."
Incrível como vivemos ainda em uma sociedade que acredita que a jovialidade e a "pele bonita" de uma mulher só são possíveis graças a um homem. Poderia ter dado algumas respostas diante de tal comentário, mas agravaria ainda mais a minha situação de mulher que não precisa de homem para viver.
Como tenho o péssimo hábito de observar mais que dar opinião, passei um bom tempo observando as mulheres e seus companheiros. Ali estavam "belas, recatadas e do lar" prontas para representarem seus papéis de mulheres dedicadas, trabalhadoras, boas mães e responsáveis. Ali estavam mulheres que observavam seus homens na expectativa de um comentário a seu favor, um toque carinhoso, um olhar apaixonado. Ali estavam os homens bebendo e comendo como animais que são, ordenando a suas mulheres para prestarem atenção a seus filhos, "fulano está no brinquedo vá lá ver", "siclano não comeu arruma alguma coisa pra ele", "pega uma cerveja pra mim", "estou com fome, me faça um prato"... E lá vão elas, obedientes, domesticadas e felizes por poderem contribuir para a felicidade de seus homens. Não as julgo, de forma alguma, muitas são felizes assim mesmo e as respeito por isso, mas não é o meu caso. Ali estavam figuras que conheço muito bem, que têm suas vidas paralelas, mas que na sociedade em que vivem passam a imagem do homem sério, responsável e provedor. Também não os julgo por isso, cada um faz as escolhas que quer, não é problema meu.
Um desses seres sentou-se ao meu lado e veio logo dizendo que precisava conhecer "o cara" que estava me deixando tão bonita, porque precisava aprovar ou não meu relacionamento... Como a intimidade é uma merda, respondi que não era ele, era ela e fiquei admirando a sua expressão de incredulidade, quase ri, mas precisava manter o meu tom irônico de seriedade, que modéstia a parte sou muito boa. Então não era um homem que estava me deixando bonita era uma mulher, como se eu não tivesse a capacidade e a competência de ser bonita por minhas próprias mãos e da minha dermatologista querida, é claro.
Em nenhum momento me foi questionado se o motivo de "minha beleza" estava relacionado a minha forma de viver, aos cuidados que tenho com meu corpo, a forma como levo a vida, mas sim que a única razão só poderia estar vinculada a uma outra pessoa, homem ou mulher.
Há muito tempo não preciso de homem para ser bonita e feliz. Gosto muito de homens, como diz Cher, são tipo sobremesa, e eu adoro sobremesa. Mas a única responsável pelo meu bem estar sou eu mesma. Com meio século de existência não preciso de joguinhos, escolho com quem quero ficar e se quero ficar. Faço o que me dá prazer, falo com quem me dá prazer, dou atenção a quem admiro, gosto e desejo que esteja  na minha vida, independente da reciprocidade. Posso parecer egoísta, fria e distante, mas apenas escolhi viver de acordo com o que me dá bem-estar e não vivo para agradar a ninguém.
Quanto aos comentários da noite passada fica a sensação de que ainda precisamos evoluir muito para sermos realmente compreensivos e amáveis para com o outro, aceitá-los como são, com suas diferenças, valores e escolhas. E me divirto com as questões que ficaram soltas no ar, será que ela é? será que ela não é?... E a vida segue, cheia de altos e baixos...

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E aí vem você, todo dengoso e cheiroso Roça meu pescoço, você é habilidoso Sabe sussurrar em meus ouvidos Palavras que fazem meus pêlos e...