quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Ai, moço bonito
Perco até o gingado quando você me olha assim
Se me vem ao alvorecer nem percebo o sol nascer
Embriagada que fico só por te ver
Suas passadas seguras, respiração ofegante
Essas pernas, ai que pernas
As minhas chegam quase a tremer
Mas se me vens ao anoitecer
Travo uma briga com a lua atrevida
Que vem toda cheia de vida
Para o teu olhar de mim roubar
Ela sabe o poder que tem
Pois te seduz até no reflexo do mar
E do alto de meus pensamentos lascivos
Fico a me perguntar: o que pensas ao caminhar?
Me ponho logo a fantasiar
Ai, moço bonito
Sinto o teu cheiro no ar
Cheiro de macho que tem charme no olhar
O suor exalando cedro e o frescor do hortelã
Pisca para mim com esses olhos de avelã
Da minha janela fico a sonhar
Vejo teus braços lançados ao vento
Correndo para me encontrar
Ai, moço bonito
Torço para o tempo parar
Se me desalinho toda só ao te ver passar 
O que seria de mim, se de verdade,
Viesses me abraçar
Ai, moço bonito
Nem quero imaginar, melhor sonhar...



segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Devoro as horas noturnas e as engulo com gula
Bebo os minutos e como bicho selvagem
Farejo o tempo na esperança
De encontrá-lo desprotegido e desatento
Enlouquecida saio para a escuridão
Deixo as névoas da noite me cobrir
Deparo-me com a exuberante lua
Tão cheia e majestosa em sua veste prateada
Sua luz parece querer penetrar minha alma
Me desequilibro diante de sua magia
Sou fuzilada pelo brilho das estrelas
Caio no vácuo de minha existência
Despedaço-me em fragmentos
Sou recolhida e cuidada
Os minutos sopram melodias
Vou acalmando meu lado bicho
Agora sou apenas um espectro
Deformado enquanto ser
Para a luz do dia ver-me, de novo, renascer.



Sou negro
Dizem que tenho a pele negra
Mas quando olho para ela
Não consigo enxergar essa cor
Ela tem tons de chocolate com um toque de café
Muitos me olham com asco
Sei que pareço um deficiente
Para aqueles ditos inteligentes
Não quero ofender, mas que eu saiba
A cor do meu sangue é igual a sua
Um vermelho denso e brilhante
Meus dentes são tão brancos
Meus cabelos, para muitos pixaim,
É motivo de orgulho para mim
Seu desdém, às vezes, me magoa,
Mas tenho para mim que você
Em algum momento de sua
Tão divertida existência
Gostaria de ser como eu
Já nasci com o gingado no corpo
Rebolo meus quadris com suavidade
Meus pés deslizam ao som do cavaquinho
Do agogô e do tamborim 
Tenho o sorriso solto e meus antepassados
Foram reis e rainhas repletos de histórias
Talvez por isso tenhamos sido aprisionados
Mas apenas o corpo sofreu os flagelos
Da sua pequenez e ignorância
Nossa alma é livre
Nossos mitos yorubás
São nossos protetores e guias
Sou negro e orgulho-me de sê-lo
Minha história vem antes da sua
E por mais que você me ignore
Sou presente, tenho presença,
Sou forte e desejado
Sou negro, sou força, sou fruto
Da natureza que me dá vida
Na esperança constante que a proteja
Cometo erros assim como você
E pago bem mais caro pelo simples fato
De ser negro
Não tenho raça, tenho alma.
E os matizes amarronzados da minha pele
Não deveriam ser as únicas formas de nos
Diferenciar e ignorar.





E aí vem você, todo dengoso e cheiroso Roça meu pescoço, você é habilidoso Sabe sussurrar em meus ouvidos Palavras que fazem meus pêlos e...