domingo, 26 de maio de 2013

Não que você não seja bonitinho
Legal, engraçado, bom de cama
É que depois de um tempo
Perde a graça e deixa de ser interessante
Não que você não aqueça meu corpo
É que chega uma hora que brasas
Não são suficiente preciso de fornalha
As pinceladas ao longo do tempo
Desenham um quadro que eu idealizei
Com o rosto que eu imaginei
Criado a partir dos meus desejos
Mas até os desejos, às vezes
Precisam ser trocados
Não que você vá sair do meu imaginário
Mas é preciso trocar as roupas
E é sempre bom vestir algo novo
Deixa-nos com a sensação
De jovialidade estampada no corpo.




Foto Internet

Noite de lua cheia...
Figuras femininas
Despem-se diante  da luz mágica
Que as embebedam de sensualidade
O uivo alcança o tom mais alto
E a dança convida ao acasalamento
Noite de lua cheia...
Mulher transformada em loba
Na caçada que domina a noite
Cheiro aguçado, desejo revelado
Noite de lua cheia...
Da boca que devora a carne
Na satisfação do corpo
Na dominação do outro
Noite de lua cheia...
Fim do dia e ele me acompanhou cada minuto
Soprando frases soltas em meus ouvidos
Desdenhando de meus esforços na
Tentativa infeliz de afastá-lo de mim
Se ajeitava com graça e fazia troça
Sempre que tentava desviar do assunto
Às vezes me pegava distraída e ele
Vinha sorrateiro e até me acarinhava
Sabendo que gosto tanto quanto
Vem por trás e me abraça com força
Em alguns momentos o frio e o silêncio
Tornavam-se seus cúmplices e ele
Achava-se meu dono
Já cansada dessa luta inutil
Devo dizer que essa guerra
Quem perdeu fui eu
Melhor lançar-me em abandono
E no calor dos braços seus
Ser totalmente sua meu adorado SONO.





Mais uma noite insone
Fria, dolorida e silenciosa
O tempo me olha quieto em seu canto
Não me incomoda tão pouco
Apieda-se de mim
Rabisco letras e os desenhos
Aos poucos transformam-se
Em palavras vazias
Elas ficam ali também
Não se arriscam manifestar-se
A noite tem tantos mistérios
Com magia ela cria ilusões
Que ao toque se diluem
Viram fumaça dissolvendo
Não há um sussurro no ar
Apenas o silêncio
Rigoroso e pleno de significado
O silêncio diz mais que
Toneladas de palavras vazias
Eu o escuto e luto para
Não compreendê-lo
Na sua simplicidade e sabedoria
Aplica-me a dose certa da droga
Que preciso para continuar
Alguns viciados levam tempo
Para desintoxicar seus corpos
Sinto-me como um viciado
Na luta por sua libertação
E nestas noites sem sono
Tiro de mim a máscara
Que preciso levar durante o dia
E enxergo a imagem refletida
No espelho com espanto e receio
O corpo cansado e velho
Me olha com carinho
A hora se aproxima e sinto
Que é preciso seguir adiante

Em algum lugar você está
O sorriso leve
O olhar sincero
O toque nos momentos de
Intensa atividade
As palavras que não precisavam ser ditas
O aconchego a segurança
A certeza de que seria eterno
Não me sobrou mais nada
Apenas um coração oco
Vazio de sentimentos
Perdida me encontro
Sozinha na multidão
Não há ninguém capaz
De me acalentar 
apenas com um olhar
Cada rosto que a mim chega
Não consegue preencher
O abismo formado
Sinto nossas mãos no último toque
Vejo a fina linha que nos prendia
Dissolvendo-se no ar
Aos poucos vou me esquecendo
Do teu belo rosto e me desespero
Quando o vento sopra imagino
Você sussurrando ao meu ouvido
A poesia que me presenteava
A cada manhã com palavras
Que tornavam-se melodia
E que iluminava cada segundo
Do meu longo dia
Hoje a poesia me acompanha
E tento em vão colocar em palavras
A saudade que me devora
Na tentativa infeliz de amenizar
A dor da ausência e a certeza
De que longa será a jornada
Até nosso reencontro
Nada que digo ou faça
Tem qualquer importância
Porque nada nem ninguém
Ocupará o lugar que você
Com sua doçura, inteligência
Amor descomplicado 
Soube tão bem conquistar
Caminho tão somente por caminhar
Consciente que você está feliz
E assim como eu aguarda pacientemente
O momento certo de nos reencontrar
Mas a saudade, às vezes, bate sem dó
Amor da minha vida...De tantas vidas!





O Cravo e a Rosa


O cravo e a rosa
Belos em suas formas
O cravo desdenha a rosa
A considera flor da vida
A rosa admira o cravo
Por considerá-lo muito
Mais que um simples cravo
O cravo se enche de prepotência
Na sua altivez desmedida
Na sua arrogância incontida
A rosa brilha no seu estado
De pureza de vida
Enquanto o cravo
Busca o reconhecimento
Por seus feitos
Nem sempre tão perfeitos
A rosa se agiganta
Pois sabe que é bela
E sua beleza vem de dentro
Daquilo que faz, suas ações
E do jeito simples de florear
Seus caminhos
Enquanto o cravo se exibe
A rosa vive, mesmo com seus espinhos.


A madrugada me encontra
E se depara com a imagem do
Tempo passando a noite comigo
Seus sussurros lentos embalam
Esse corpo cansado e sem sono
Céu de estrelas e o silêncio
O frio chega tão perto que
Que arrepia a minha pele
Formando desenhos estranhos
Folheio livros, reviro lembranças
Sinto o cheiro das velhas histórias
Acaricio com cuidado pedaços
De sentimentos  guardados
No fundo escuro do coração
Lá eles adormecem tranquilos
O calor que não aquece e
As certezas que machucam
Vão costurando os fios
Em volta do meu corpo
Criando a moldura que
Protege a aquarelada
Figura de cores já desbotadas
Os tons dourados da manhã
Completam essa tecedura
Da armadura que me permitirá
Atravessar as longas horas
De mais um dia de espera
Nessa jornada que me leva
A caminhos desconhecidos
Onde o destino é guardião absoluto.

                       (Foto: "Série: Sombras" Jacqueline Batista) 


Vou caminhando
Retirando os espinhos e limpando as feridas
Tropeçando nas pedras
Equilibrando-me com parcos apoios
A distância percorrida revela-me
Mais do que havia imaginado
Pinturas borradas de uma
Paisagem que imaginava tão bela
Retroceder no tempo
Na ingênua vontade de recuperar
Um tempo que já partiu
E que minhas retinas fechadas não viu

Quando você veio naquela manhã de inverno
Não podia imaginar que meus dias vindouros
Seriam repletos de fantasias, ilusões, tristezas
Não nego que houveram momentos de alegria
Uma falsa alegria tenho certeza hoje
Pudesse eu voltar no tempo
Aquele dia não existiria
Talvez tivesse perdido a oportunidade
De sorver tantos sabores
Mas não teria manchado minha alma
Com tantos dissabores
Noites vi chegar e partir com a aurora
As lágrimas me fizeram companhia
E por muito tempo vieram durante o dia
Você nunca  olhou em meus olhos
E todas as vezes simplesmente
Passou o tempo como se ali na sua frente
Eu fosse apenas um pequeno objeto descartável
Desnecessário e tão vazio de importância
E com um simples toque fizesse desaparecer
Como sempre o fizera
Meus sentimentos nunca tiveram valor
Talvez fossem apenas motivo de desdém
E que tantas vezes esnobou e desprezou 
Quisera no tempo voltar e nada disso viver
Mas não teria a sorte de aprender
A me livrar de germes como você.

Hoje eu queria um abraço apertado
Um beijo demorado
Sussurros no ouvido
Mel em forma de canto
E nesse encanto apenas ser
Transformar em um o que ora fora dois
Ser, independente de ter
Quisera apenas merecer
E nesse instante me enternecer...

                                                                                      (Foto: "Série: Sombras" Jacqueline Batista)


"Não aceito coisa alguma de quem quiser me catalogar. Só aceito as críticas de quem seja capaz de vivenciar comigo a sensibilidade e a experiência que me levaram a um quadro ou a uma atitude..." 
Lygia Clark

E aí vem você, todo dengoso e cheiroso Roça meu pescoço, você é habilidoso Sabe sussurrar em meus ouvidos Palavras que fazem meus pêlos e...