quarta-feira, 29 de julho de 2015

Foto: Mauro Marques
Um tic tac ao longe lembra que o tempo passa
Lento, constante e ritmado
No abrigo da noite, na companhia
Do copo, da pena, do papel
Devaneio na madrugada
O gosto amargo é doce no final
Me consola como beijo
Deixado na espera da noite passada
Lamentos de horas vãs
Transcritos em versos desconexos
Palavras que dançam à minha frente
Como bailarinas desprovidas de rima
Criaturas noturnas despertam
E se deixam comigo compartilhar
Risos soltos, afagos e sentidos
Noite alta, estou absorvida pela magia da escrita
Alma alerta, desprendida
Um sorriso me vem e sorrio de volta
Nessas voltas um encontro
                              [entre tantos desencontros...]
Sentimentos enevoados
Deixados ao lado, cobertos, recobertos
Último gole... Dourado
Bolhas de sabor explodem na boca
Anúncio de finitude
De tempo necessário...



Foto: Arkadiusz Branicki


Esse corpo é só um corpo
Nada nele reflete o que vai na alma
Ele é duro, frio, vazio
O sorriso não demonstra nada
E o que brilha nos olhos
É tao somente luz qualquer
Esse corpo já não desperta sentido
Esse corpo já não faz mais sentido
É só um corpo esvaído
Um corpo que quando nu 
Não mostra a verdadeira nudez
Apenas os restos que se permite ver
Não há pudor nesse corpo nulo
Não é belo, não é feio, não é nada
Apenas um corpo
Carregado de dor e sofrimento
Que se arrasta comendo o tempo

Romper
        Permanência do ser
Distorção sentimento corpo
                                         corpo
Ilusão fantasia escuridão
Ausência que se faz luz
                                     luz
Nudez de pele de carne
Pudor de vestes reforço
                          esforço
Na tua minha imagem
Desenho que se funde
                          Finge
Já não sou o que ontem fui
Mas flui
Perturba castiga aflige
Imaterial intocável
                    Inefável

Momento de profundo vazio_salvador/BA


Como bem descreveu Aristófanes
Vagamos no mundo
Nessa busca constante
Da parte que nos foi extirpada
Essa dor que sentimos
Essa ausência que não se nomeia
Esse conflito que castiga
Que não dá absolvição
Essa sensação solitária
Como gozo sexual
Que é sempre do próprio gozo
                            [Que se goza]
E que ao final desse prazer ilusório
Do esvaziamento
                    [rompimento]
Voltamos a solidão desse corpo
Retornamos a esse vazio
Ao caminho de pedra
Obstáculo ou mera escusa
Vaguear ilusório do obstante amar
                                      A...
                                          Mar...




E... Se...
E se eu juntasse tudo
E de repente fizesse sentido
E se eu me permitisse
Acreditar um minuto que fosse
No que a mim se apresenta
E se a realidade não fosse tão crua
E se o meu olhar não fosse tão crítico
E se eu esquecesse o ontem
E se eu não pensasse no amanhã
E se eu olhasse com carinho o hoje
E se cada segundo fosse o último
E... se...
E se eu não tivesse permitido tanto
E se eu não tivesse aceitado tanto
E se eu não tivesse lutado tanto
E se eu tivesse desistido cedo
E se eu fosse outra e não eu
E... Se...
                           E [sozinho não é nada]
                          Se [apenas conjunção]
E se... juntos pressuposto
Se não é poderia ter sido
Ma o se será sempre interposto



E aí vem você, todo dengoso e cheiroso Roça meu pescoço, você é habilidoso Sabe sussurrar em meus ouvidos Palavras que fazem meus pêlos e...