sexta-feira, 29 de abril de 2011

Minha amada poeta Florbela Espanca encerra essa tarde com seus versos apaixonados e apaixonantes. Quisera eu ter apenas algumas gotas de toda a sua beleza poética...

Balada (Florbela Espanca)

Amei-te muito, e eu creio que me quiseste
Também por um instante nesse dia
Em que tão docemente me disseste
Que amavas ‘ma mulher que o não sabia.

Amei-te muito, muito!Tão risonho
Aquele dia foi, aquela tarde!…
E morreu como morre todo o sonho
Deixando atrás de si só a saudade! …

E na taça do amor, a ambrosia
Da quimera bebi aquele dia
A tragos bons, profundos, a cantar…

O meu sonho morreu… Que desgraçada!
………………………………
E como o rei de Thule da balada
Deitei também a minha taça ao mar …

(Florbela Espanca - Trocando olhares - 08/08/1916)
Quando você se for
Ainda ficarão alguns restos:
Restos de saudade
Restos de lembrança
Restos de desejos
Restos de esperança
Restos de palavras não ditas
Restos de sonhos não realizados
Restos do que não se queria acabado.
Quando você se for
Ainda sobrarão momentos:
Momentos de entrega
Momentos de alegria
Momentos de paixão
Momentos de vazio
Momentos de solidão
Momentos de lágrimas
Lavando pacientemente
Meus momentos
De vazio e silêncio
Quando você se for
Irá apenas teu corpo físico
Sua alma eterna
Será companheira inseparável
De minha alma na infinitude do tempo.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Um pouco de amor e poesia nessa tarde...

Abelardo e Heloisa


"Fujo para longe de ti,
evitando-te como a um inimigo,
mas incessantemente
te procuro em meu pensamento.
Trago tua imagem em minha memória
e assim me traio e contradigo,
eu te odeio, eu te amo."
(Carta de Abelardo a Heloísa.)

"É certo que quanto maior é a
causa da dor, maior se faz
a necessidade de para ela
encontrar consolo, e este
ninguém pode me dar, além de ti.
Tu és a causa de minha pena,
e só tu podes me proporcionar conforto.
Só tu tens o poder de me entristecer,
de me fazer feliz ou trazer consolo."
(Carta de Heloísa a Abelardo)

Conhecidos como os amantes imortais, ambos viveram em Paris no século XII. O romance entre Heloísa e o filósofo Pedro Abelardo iniciou-se em Paris, no período entre o final da Idade Média e o início da Renascença.
Abelardo havia sido transferido recentemente e nomeado professor pela Escola Catedral de Notre Dame, tornando-se, em pouco tempo, muito conhecido por admirar os filósofos não-cristãos, numa época de forte poder da Igreja Católica.
Heloísa, que já ouvira falar sobre Abelardo e se interessava por suas teorias polêmicas, tentou aproximar-se dele através de seus professores, mas suas tentativas foram em vão. Até que o encontro acontece e os dois se apaixonam.
Em uma das inúmeras cartas trocadas entre os dois amantes encontra-se esse trecho que Heloisa escreve a Abelardo:
"Os prazeres amorosos que juntos experimentamos têm para mim tanta doçura que não consigo detestá-los, nem mesmo expulsá-los de minha memória. Para onde quer que eu me volte, eles se apresentam em meus olhos e despertam meus desejos. Sua ilusão não poupa meu sono. Até durante as solenidades da missa, em que a prece deveria ser mais pura ainda, imagens obscenas assaltam minha pobre alma e a ocupam bem mais do que o ofício. Longe de gemer as faltas que cometi, penso suspirando naquelas que não pude cometer". 
(Livro: "Correspondência de Abelardo e Heloisa" Editora Martins Fontes.)

Após os infortúnios que os acometeram, passaram a viver próximos um do outro, mas nunca mais se falaram,a não ser pelas cartas.
Para os mais eufóricos com o cinema, há uma adaptação de 1988 deste caso de amor para as telas, o filme Stealing Heaven (traduzido no Brasil como Em nome de Deus), que, além das cores reluzentes, não guarda a mágica das palavras, ainda que conte quase a mesma história... É um bom filme, a fotografia e a trilha são lindas.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

      Como é bom observar as pessoas em época de novas tecnologias e redes sociais. Hoje, durante o almoço, fiquei observando as pessoas que chegavam para almoçar, acompanhadas, sozinhas, com colegas de trabalho, em família, com o namorado, enfim, pessoas que deveriam saborear esse momento, mesmo que em pouco tempo, com conversas agradáveis aliadas a uma boa refeição. A falta de tempo já não nos permite mais ir pra casa e fazer uma refeição tranquíla e, as vezes, a distância também nos atrapalha um pouco.
      O que observei foi a extensão do escritório, pessoas tão obcecadas com o trabalho que junto com o prato de comida estava o netbook, dois ou três celulares do lado ocupando o espaço dos talheres. Se a comida tem algum sabor, provavelmente nem saberiam dizer.
     Em uma mesa havia um casal, ele falava ao celular e tentava conciliar essa conversa com uma garfada de comida, ela apenas comia, sem expressão nenhuma no rosto. O almoço durou o tempo do bate papo ao celular. Levantaram e partiram. Em outra mesa, a sobremesa deu lugar a um agoniado bate papo via sms, quatro pessoas à mesa e nenhuma delas conversando entre si, todas atentas aos seus respectivos celulares. A música ambiente era atrapalhada ora pelo som do celular que tocava ou por alguém que, descuidadamente ia aumentando o tom de voz enquanto conversava com alguém, via celular.
      Esses aparelhos mínusculos e cada vez mais sofisticados tomaram o lugar dos bate papos, hoje você nem olha mais para o lado de tão obcecado que está por aquela mensagem que não chega ou por aquela ligação que está demorando demais. O olho no olho ficou demodê, saiu de cena para a chegada ou checada dos emails "importantes" que não podem esperar o fim do almoço. Trocar ideias, contar uma piada ou simplesmente prestar atenção no que o outro está falando está fora de moda.
      Em tempos modernos você não escuta apenas ouve, quando o celular permite é claro. Encerrei meu almoço na companhia de alguns amigos que, de tão preocupados que estavam com os seus celulares, me permitiram fazer essas observações, lamentáveis, e ao mesmo tempo um alerta para que eu não me torne uma escrava desses aparelhinhos maravilhosos e tão importantes e desejados. Eu também aguardo com ansiedade minhas mensagens, a ligação que há tanto desejo, mas somente depois de minhas refeições. Meu aparelho fica bem quietinho dentro da bolsa e som baixo para não atrapalhar meu momento.
     Adoro esse mundo moderno que me permite tantas facilidades, mas também adoro a conversa olho no olho, o sorriso, a fofoca (sem maldade), a piada, a descontração do momento junto a um belo pedaço de pudim. Espero, que nesse planeta gigantesco, existam muito mais pessoas que pensem assim como eu. Um ótimo almoço a todos, sem celular, por favor!

E aí vem você, todo dengoso e cheiroso Roça meu pescoço, você é habilidoso Sabe sussurrar em meus ouvidos Palavras que fazem meus pêlos e...