quinta-feira, 16 de março de 2017

Meu telefone morreu há alguns dias, sem nenhuma chance de recuperação. Trabalhou arduamente, mas a  obsolescência programada não perdoa, e quando você tenta viabilizar algum conserto para evitar gastos maiores, descobre que o valor do conserto é quase o mesmo de um aparelho novo. Com o feriadão de carnaval me dei o direito de esperar para adquirir outro telefone. Como não viajo nesse feriado e gosto do sossego da minha casa, me vi quase distante da tecnologia o que foi interessante. Quase porque precisava receber algumas informações importantes e o único meio era o e-mail, que hoje em dia quase ninguém gosta de usar, ou pelos chats de bate papo Messenger ou Hangouts. Descobri que o Instagram tem chat de bate papo nunca percebi a existência desse recurso, se não é um amigo me chamar ficaria na ignorância (rs).
O mais interessante é saber o quanto ficamos a mercê dessas tecnologias. Uma amiga veio em casa, quase enlouquecida, querendo saber quando iria comprar outro aparelho, que ela tinha dois e ia me emprestar um até eu efetuar a compra, porque era IMPOSSÍVEL eu ficar sem telefone, como ela ia falar comigo, e se ela tivesse uma crise existencial e precisasse conversar, a quem ela iria recorrer. A fiz sentar, se acalmar e perceber que estávamos ali, juntas, olhos nos olhos, conversando, e que o telefone havia perdido todo o sentido, ela me abraçou e disse "amiga eu te odeio" (rs).
Precisei falar com um professor e descobri que o número do telefone dele estava nos contatos do meu telefone morto e que não havia me dado ao trabalho de fazer um backup dos meus contatos. Não sei de cor o número do telefone de ninguém, nem da minha melhor amiga, que nos falamos todos os dias, duas vezes por dia. Um erro que preciso corrigir.
Ouvimos as pessoas pelo áudio ou vídeo do WhatsApp, nunca temos tempo de estar ao vivo com alguém, porque arrumamos tantas coisas para fazer que esquecemos como é bom sentar, tomar um café, cerveja ou vinho e bater papo. Nos tornamos meros participes de coisa nenhuma. Uma troca de mensagem, um compartilhamento de algo engraçado, ou até sério. Nos escondemos atrás dessas maquininhas e nos poupamos de vivenciar tristezas, amarguras, problemas. Evitamos o óbvio porque achamos que assim estamos a salvo de nos magoar. Criamos diálogos gigantescos quando não recebemos respostas de uma msn enviada, porque se quer paramos para pensar que do outro lado existe um ser humano com seus problemas, tempo apertado, desejos outros e que se não responde é porque não quer ou tem outras coisas para pensar, simples assim. E fantasiamos porque, embora escondidos, queremos ser notados.
Mesmo tendo avisado que não tinha telefone, recebi reclamações e cobranças, fui julgada e criticada, de fria e hipócrita a outras besteiras do gênero. Nem sabia que era tão necessária assim, e não sou.
Contudo, mesmo quebrando a cabeça para tentar localizar algumas pessoas, percebi que o telefone, instrumento útil para as horas necessárias, não me fez a menor falta.
Enquanto concluo esse texto posso dizer que já tenho outro aparelho, vai levar um tempinho até conseguir resgatar os meus contatos, mas tem alguns que nem sei se vale a pena trazer de volta à vida...



terça-feira, 14 de março de 2017

Sofro de amor antigo e nesse caso
Não por acaso, recorro a um sábio
Que de amor tudo sabia

"Ao Amor Antigo
O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor"
                 [CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE]


E aí vem você, todo dengoso e cheiroso Roça meu pescoço, você é habilidoso Sabe sussurrar em meus ouvidos Palavras que fazem meus pêlos e...