sábado, 11 de fevereiro de 2017

Sempre fui uma boa ouvinte e boa observadora. De uns tempos para cá meus ouvidos têm sido bastante solicitados. Quando descobrem a especialização a qual seguirei então desbloqueiam o botãozinho da insegurança e da-lhe insatisfação.
Ouço todo tipo de argumentação que vai desde a falta de apetite sexual até a raiva que sentem só de pensar que têm que transar sem vontade.
Estava no salão que fraquento, e normalmente vou num horário que não tem quase ninguém, mas nesse dia estava lotado. Fiquei ali sentadinha e bem comportada aguardando meu horário e uma ou outra puxando conversa querendo saber da semana, do semestre apertado até que alguém pergunta que curso faço, bastou (rsrs), e ficou ainda melhor quando minha manicure disse que seria sexóloga e das boas (tomara que sim). Alguém disse que em breve iria para São Paulo e precisava dar uma turbinada na beleza porque iria encontrar com um "amigo", e que o marido nem sonhava que ela iria se encontrar com o cara. Soltei, com toda espontaneidade que me é nata, que acreditava que toda mulher deveria ter um amante. Olhares arregalados, sorrisinhos cúmplices, cara fechada, "que horror". Diante das diversas reações justifiquei que uma mulher com amante ou com a possibilidade de um está sempre linda, se cuida, está sempre cheirosa, bem arrumada, o sexo com o marido, namorado, ficante ou seja lá que tipo de relação tem é sempre mais gostoso. Não precisa mais pensar no Richard Gere ou no Brad Pitt na hora do sexo, nem torce para que acabe logo e possa correr para o banheiro para tomar banho e se enfiar no pijama gigante e dormir. 
O amante dá a possibilidade à mulher de se sentir mulher, de gostar dela mesma, ainda que ela pense que é pro outro, na verdade ela está fazendo para ela mesma, ela sente prazer em se olhar no espelho, gosta de se tocar porque imagina como seria com o amante e a consequência é que ela vai se descobrindo, descobrindo quais partes do corpo lhe dão mais prazer, onde gosta e como gosta de ser tocada.
Uma não resistiu e soltou junto com uma gargalhada deliciosa, "agora entendi Jackie porque me sinto tão gostosa"... (rs). 
O homem ter uma ou várias amantes é normal. faz parte da cultura dele, ao passo que uma mulher ter um amante é coisa de vagabunda, mulher "honesta" não faz isso. Quanta hipocrisia, vejo e ouço relatos de casais que poderiam ser muito mais felizes se se permitissem ser mais livres dessas amarras sociais. Há casais que se bastam, são livres dentro da relação que têm, são felizes assim, outros precisam de outras pessoas para dar mais calor a relação, vivem sua liberdade cúmplice e verdadeira. Para mim isso é NORMAL e essencial para uma convivência saudável. Mas o que eu penso e o que o ranço cultural impõe vai muito longe.
Mas não precisam entrar em pânico, tão pouco me olhar como se estivesse falando uma heresia, a história vai nos dizer que isso nem sempre foi tão estranho assim. Mas um amante não precisa ser necessariamente ser um homem ou uma mulher, pode ser um livro, um filme, um amigo, um lugar, qualquer coisa que lhe dê prazer.
Vivi um casamento de 19 anos onde o sexo foi ficando cada vez pior por conta de pesamentos antiguados e cheios de regras, nosso discurso distanciando e quando vi estava ali com um homem que havia escolhido viver baseado no que os outros pensam, no ter, nas aparências e na total falta de respeito por mim e pela pessoa que sou. Depois de muitas tentativas frustradas de fazer dar certo desisti, o problema não era eu, o que me levou a assinar minha carta de alforria e correr atrás do que me faz bem e feliz.  
Uma pergunta que me fazem com frequência é se tenho algum amante, digo sempre que sim. Tenho pessoas lindas e que tornam a minha vida muito mais colorida e agradável, mas também tenho meus livros que me levam a viagens maravilhosas, meus filmes, meus amigos, as músicas que fazem partem da minha história de vida nesse planeta. São pequenos pontos de luz que vão iluminando minha longa jornada e sou muito grata pelas pessoas que chegam e que me permitem evoluir como ser humano.
Não sou perfeita, tenho muito a aprender, o que faço é apenas dar sugestões de possibilidades. Longe de mim dizer o que alguém tem que fazer, mas saber fazer escolhas é o primeiro passo para uma vida mais harmoniosa. Se eu sei o que me agrada, dá prazer e me deixa mais leve, isso me possibilita manter relações mais saudáveis com aqueles que fazem parte dos meus círculos sociais.
E continuo oferecendo meus ouvidos a quem desejar, não estou aqui para julgar ninguém. Ter alguém a quem se possa confiar na hora de por para fora suas angustias é reconfortante, é um alívio à alma...
Hoje a tristeza chegou como que alucinada
Parece criança birrenta querendo colo
Sentou-se ao meu lado e está insuportável
Estou com raiva, muita raiva
O peito arte e pede trégua
Grita, diz ele num sussurro mudo
G R I T A
Não dou ouvidos, não quero agradá-lo
Busco espaço, da tristeza me afasto
Qual nada, ela é bicho insistente
Se achega mais perto, gruda igual carrapato
Essa tristeza persistente
Nem de longe imagina
O que esse coração sente





Amo você pela insistência
Do ser que se faz amado
É leve amá-lo assim
Não tem hora, não tem dia
Não há obrigação nem paixão
É vento leve em manhã de primavera
Brisa fresca em tardes ensolaradas
Suspiro em noites enluaradas
Você é pássaro que não precisa gaiola
Não me pertence é alma livre
E quando a chuva chega
Mansa e musical
Aspiro teu ser no ar
Absorvo o meu viver
Porque é doce amar você






E aí vem você, todo dengoso e cheiroso Roça meu pescoço, você é habilidoso Sabe sussurrar em meus ouvidos Palavras que fazem meus pêlos e...