terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Que venha o novo ano...


Mais um ano vai deixando para trás o que se fez presente, ausente, distante. Foi um ano bom? Não sei a resposta, a única coisa que sei é que foi um ano de despedidas, algumas sem volta, outras, talvez recebam um olá qualquer dia desses, mas nem sei se esse olá é realmente importante.

Fiz viagens externas e internas, aprendi muito. Descobri coisas interessantíssimas sobre a arte da convivência, treinei a paciência, cultivei a tolerância. Importei-me muito pouco com coisas insignificantes, valorizei pequenos gestos. Conheci pessoas incríveis, decepcionei-me com outras que tinha em tão alta conta, chorei quando algumas máscaras caíram e verdadeiros rostos foram revelados, alegrei-me com gentilezas e respeito quando estes estão a cada dia mais distantes de nossa realidade. Descobri que as pessoas podem ser cruéis usando o sorriso e as frases sempre prontas para manterem-se com a imagem criada sem se preocuparem com a dor que causam por suas atitudes.

Em muitos momentos fiz do silêncio um companheiro e do barulho da minha mente o chicote que garante a disciplina de se permanecer SÃO quando a vontade é perder a RAZÃO.

Não me lembro de ter me apaixonado, acho que esse ano não tive muito tempo para isso, mas estou torcendo para que o novo ano me traga esse companheiro de risadas largas e humor na alma. Percebo agora, que a lembrança varreu esse espaço escondido, que a ausência de alguém não foi tão dilacerante assim. Talvez já esteja pronta para preencher o espaço do coração que precisou ser esvaziado. Mas diante do que tenho visto e ouvido, talvez seja melhor seguir meu caminho sozinha. A solidão pode, às vezes, causar desconforto, mas ela jamais deixará feridas que dificilmente irão cicatrizar.

Comecei a preparar uma lista de metas e desejos para o novo ano, parei na segunda linha. Não quero planejar nada, tão pouco engessar as possibilidades. Como passarinho que vem comer ou deixar sementes, quero estar de alma leve e coração livre para enxergar as oportunidades e torná-las presente de uma vida melhor, mais simples, com o que realmente vale a pena.

Já não valem mais tantas preocupações sem nexo, demonstrar sentimentos para agradar pessoas que nem se importam com você, manter na agenda quem nunca lhe dirigiu um oi. Só vale a pena o sorriso sincero, aquele que vem da alma. Só vale a pena estar com pessoas que realmente lhe desejam a companhia, só vale a pena trocar energias positivas com quem lhe deseja o sol em dias de chuva e a lua nas noites mais escuras.

Nesse tempo que corre como dantes, mas acreditamos voar como jato só precisamos bendizer ao acordar e agradecer ao adormecer.  O “e se...” deve ser trocado pelo  “vou fazer... Vou dizer...”  E lembrando Sartre “o homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo”, nesse sentido vou me construindo, reconstruindo e quem sabe no final seja alguém com muito menos peso a carregar nos quilômetros que ainda me restam para caminhar.


                             Que venha esse novo ano e que seja ele muito BEM-VINDO!

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Perguntei ao vento se poderia viajar com ele
Leve e sorridente lançou-me olhar desejoso
Me tirou do chão e voamos descompromissados
Nas suas asas dei vazão a imaginação
E lá de cima vi o mais belo dos mundos
Cabelos livres e alma leve
Solta como passarinho
Fui descobrindo aos poucos meu caminho
Mas precisava fazer uma última parada
E o vento, ciente de meu desejo
Como mágica para você me conduziu
Enxerguei teus belos olhos
E o sorriso que me acelera
Sorri de volta e quase cedi
Braços abertos e quentes me esperavam
Contemplei teu rosto e o registrei
Como tatuagem em minha memória
As mãos aproximaram-se da tua pele, senti o calor
E o halito doce da tua boca
Que sussurrava o que eu queria ouvir
Planei a sua frente, o coração saltitante
Sorri, aproximei meus lábios dos teus
E delicadamente recuei
Abri os braços e me lancei de volta ao vento
Você ficou ali, onde sempre esteve
Distante do meu mundo, impassível
E a mesma distância que uma dia
Fora alimento de fantasia
Tornara-se agora certeza
Ainda permiti meus olhos te olharem
E depois segui, impulsionada
Por um novo amanhã
E no silencioso entardecer sorri
E lentamente me deixei conduzir.






quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

                              Poema: Jacqueline Batista                           Foto: Mauro Marques

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

                   



Eu sou negra, branca, mulata, amarela, parda...
Tenho todas as cores nesse corpo que me é dado
Como invólucro que abriga a minha alma
Que tem apenas uma cor
A cor do respeito a quem quer que seja...


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

                                                                                                                 (Meu pé nas águas de Pirinópolis/GO)

Essa água que atravessa obstáculos
Que leva a poeira dos desenganos 
Que lava os dissabores
Que acalenta as várias dores
Que segue o curso do seu destino
Essa água que corre fluída
Na sua beleza cristalina
Que revela apenas o que é necessário
Essa água que misturou-se às lágrimas
E transformou-se em sorrisos...

quinta-feira, 14 de novembro de 2013




É chegada a hora
Hora de fazer balanços, deletar lixos, apagar histórias mal resolvidas...
Hora de preparar a terra para semear novas histórias
Limpar a poeira do tempo e organizar prioridades
Hora de deixar no armário do fundo o que ainda pode vir a ser usado
Lançar fora o que nunca serviu direito
Abrir a janela dos olhos e limpar a vidraça embaçada
Dos medos e inseguranças que nunca foram necessários
A hora se faz nesse resto de tempo que ainda resta.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013




O coração segue os pés
E vai lenta e delicadamente
Seguindo rastros
Não se apega a obstáculos
Sofre um baque aqui outro ali
Mas é linha que não se desfaz
E juntos, ora a frente, ora atrás
Coração e pés seguem o mesmo caminho
Saboreiam o doce e o amargo
Desse nosso incansável destino.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013


     
                                   
  Foto: Mauro Marques

O corpo descansa na maciez da sombra
Ora e outra brinca com a luz que
Toca-lhe em pequenos segredos
O olhar apagado e a face sem forma
Revelando o que não se permite
Escondendo o que é um total
Despindo-se da máscara do dia
Na certeza perdida por frestas de luz
Que desenha o imaginário em face do real
Sombra e luz tecem a roupa
Que recobre o corpo e liberta a alma
O corpo despido de vazios
E preenchido de histórias
Tantas vezes transformado em memórias

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

E ela cuidou da dor
como criança ainda no colo
Acariciou, limpou, alimentou
Enquanto adormecida
A dor era quase inexistente
Mas ela soube suportar
Na exasperação de momentos
À quietude morna
E assim quando ela percebeu
A dor havia crescido e partido
E em repouso ela adormeceu
Agora ela estava livre
E poderia, enfim, apropriar-se
Do que realmente era seu

sexta-feira, 30 de agosto de 2013



O incômodo está sempre nas entrelinhas
Nas etecéteras, nas reticências...
Nem sempre cabe uma vírgula,
Nem tudo se resolve com um ponto.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

ALZHEIMER: a dor do esquecimento

                                  (Poema dedicado a minha mãe)

Lembro-me perfeitamente dos tempos de infância
De correr pelas campinas, apartar as vacas
Brincar com meus irmãos, ir aos bailes para namorar
O tempo passado me é o mais presente
Esse presente que são apenas borrões
Sei que fico agressiva, irritada
Repito as mesmas perguntas o tempo todo
Os que estão a minha volta também se irritam
Não sei o que acontece comigo
Esforço-me para lembrar, mas não consigo
Percebo minha fala estranha
Não consigo formular frases, nem as mais banais
Por isso acho melhor ficar calada
Esqueço o chuveiro ligado, mas nem sabia
Que tinha ido ao banheiro
Alguns rostos à minha frente não consigo distinguir
Acho que são meus, mas não me lembro
Dizem que são meus filhos, meu marido
Mas eu não os acho na minha memória
São estranhos que brigam comigo
Meu andar já não é tão fácil como nos tempos de juventude
Será que caí e me machuquei?
Não me lembro
Vejo os dias nascerem e partirem
E vou criando um mundo só meu
Pareço uma estranha diante de tantos estranhos
Só queria que não brigassem comigo
Fico sozinha querendo entender  as coisas
E me disperso com tanta facilidade
Será que estou doente e não me dizem nada
Ontem tentei comer um pãozinho sozinha
Mas as minhas mãos me traíram
Agora elas tremem e evito segurar as coisas
Porque esses estranhos brigam comigo
Passo horas olhando o céu, existe alguém lá
Mas não consigo me lembrar
Hoje eu ganhei um abraço, fiquei tão feliz
Mas não sei quem é a moça
Ela diz que é minha filha
Mas eu não sei se tenho filhos
Fiquei com pena dela, coitada
Ela acha que eu sou a mãe
Vejo-me tão enrugada, acho que estou velha
Mas nem sei que idade tenho
Será que já cheguei aos quarenta?
Perguntei  isso outro dia e um rapaz
Que eu nem conheço me chamou de vó
Achei tão estranho...

terça-feira, 20 de agosto de 2013

O beijo - Gustav Klimt

Beijo a sua boca e sinto gosto de saudade
Beijo macio e suculento
Como cereja madura
Que explode seus sabores
Nesse encontro de lábios e línguas
Beijo bom...
Beijo que deixa saudade
Mesmo antes que esse toque se acabe...

sábado, 17 de agosto de 2013

Ela está ali novamente, parada
Cabelos soltos e ao vento
Tez serena e olhar distante
Ei menina para onde olha?
Que horizonte é esse que apenas
Seus olhos enxerga?
Que caminhos percorre
E por que não deixa pegadas?
De onde vens e por que não me conta tua história?
Ei menina por que não me olha?
Me deixa ver essa luz que tanto brilha
Ei menina...
E ela apenas caminha, leve e silenciosa
Se distancia ao meu toque
E ali eu fico, parada
Apenas vendo-a partir
No seu silêncio que fala mais que palavras
Será que um dia realmente a vi?
E agora folheando minha memória
Percebo que sempre a conheci
Mas em algum lugar no tempo a perdi
Desembrulho o passado
Ansiosa para encontrar o presente
Aninhados em papel de seda
Vejo dois rostos que se fundem
Eu era a menina, há muito por mim esquecida
E entre exclamações e perguntas
Vislumbro o nada e apenas um sentimento
Em que momento eu a afastei de mim?

sábado, 10 de agosto de 2013


Foto: Mauro Marques


O espelho reflete os traços de um rosto
Que aos poucos vai desenhando-se
Olhar miúdo,  brilhante, triste?!
A pele lisa, cremosa como polpa de pêssego fresco
Nos lábios um leve sorriso, tímido, impreciso
O estalar do tempo pincela a carne
O olhar miúdo,  novos traços,  marcas
O sorriso ora malicioso, ora carinhoso
É mistério nessa boca que não fala
Tal como folhas que se desprendem nos outonos
A pele já não tão alva e macia
Desenha sombras e conta histórias
Como areia do tempo na ampulheta
Os olhos trazem mistérios há muito escondidos
Os sulcos na pele agora são como livros de memória
Cada um representa um prêmio
Pelas dores e sofrimento
Ou pelas gargalhadas e alegrias
Mas os olhos...
Os olhos não mudaram com o tempo
Da criança de um dia a mulher madura de agora
A eterna busca, a impaciente espera...
O espelho reflete a casca
Os olhos desnudam a alma.


quinta-feira, 8 de agosto de 2013


                                                            
A vida vai me levando por encostas ou ruelas
Lugares claros e , às vezes, escuros
As passadas largas nas horas despreocupadas
O caminhar lento no momento de dor e sofrimento
A vida com seus símbolos e significados
Vai me deixando migalhas de pão por onde passo
Com a certeza que se não acerto o passo
Perco o tempo e o compasso da minha história
No lumiar do dia ou sob a abóbada celeste
Vou contanto em versos
O que os olhos printaram na alma
Já não corro apenas caminho
Já não falo, sussurro
Nesse vagar inconstante e incerto
Sou ave que voa livre nas asas do vento
No coração o calor
Na alma conhecimento

sábado, 27 de julho de 2013

"A alegria começa quando somos responsavelmente livres para ser nós mesmos; quando tomamos o leme de nossa vida nas próprias mãos e deixamos de ser escravos de algo ou de alguém... Quando seguramos as rédeas da própria existência,  assenhoreando-nos dela, vivemos tranquilos e felizes e não mais necessitamos impor, comandar e controlar os outros, nem utilizar compulsoriamente a aprovação e os aplausos alheios para decidir ou agir, porquanto estamos firmados em nosso mais profundo senso de identidade...É muito bom vivenciar a alegria de encontrar o tesouro escondido no campo da própria alma... que sustenta, resguarda e inspira o ser humano a progredir de modo natural e sensato." Francisco E S Neto/Hammed

sexta-feira, 26 de julho de 2013

E fui deixando pedaços pelo caminho
Um olhar distraído, perdido na beleza
Um afago no coração aquietado
Vesti-me com a leveza dos sonhos
Compartilhei carinho
Na manhã ensolarada
Ou no entardecer silencioso
Regozijei-me em agradecimento
Descalcei os pés e senti o poder da terra
Mergulhei no espaço esquecida do tempo
Na encruzilhada do caminho
Escolhi o menos gasto
Fechei os olhos da carne
Enxerguei com os olhos da alma
Tão longa a viagem
Tão curto o tempo
Enquanto realidade fui apenas fantasia
Enquanto sonho desabrochei minha verdade
E no despertar do augusto dia
Dei asas a minha liberdade.

domingo, 16 de junho de 2013

                                       

Hoje quando o sol acordava preguiçoso
 E a aurora matizava o céu
Despertei com uma estranha sensação
E um tilintar de fada devolveu-me a visão
Descobri que para muitos
O corpo é só um corpo
Olhos e mentes cegas
Não enxergam a sua beleza
Tão pouco a sua poesia
A sensação de desconforto
Era apenas a reação ao desalento
De pertencer a um mundo
Que não me enxerga apenas me vê
Enrosco os pensamentos em frestas de luz
E a penumbra que ora se desfaz
Leva consigo minha única certeza
Somente seres sensíveis desfazem-se
De preconceitos e misérias materiais
Para ver não um amontoado de carne e pele
Mas a pureza e a simplicidade da alma

                                      
Esse corpo que revela não a sua nudez
Mas a nudez da sua alma
A não certeza da sombra que o recobre
O mistério que o abraça com gratidão
E se dissolve desmanchando-se no ar
Embalado pela melodia de vozes antigas
Que recitam histórias, revelam memórias
Esse corpo que se abriga na sombra
E se protege de olhos cegos 
Que não o conseguem ver
A luz escorre por cada poro
E vai desenhando contornos
Suas pinceladas deixam rastros
Da pureza adormecida e intocada
Ao deslizar pela pele
Escolhe o que deve tocar
Nesse corpo sem rosto
A luz alia-se a sombra
Permitindo que só os olhos da alma
Sejam capazes do corpo enxergar

Outra vez (Roberto Carlos/Isolda)

Você foi...
O maior dos meus casos
De todos os abraços
O que eu nunca esqueci
Você foi...
Dos amores que eu tive
O mais complicado
E o mais simples pra mim
Você foi...
O melhor dos meus erros
A mais estranha história
Que alguém já escreveu
E é por essas e outras
Que a minha saudade
Faz lembrar
De tudo outra vez.
Você foi...
A mentira sincera
Brincadeira mais séria
Que me aconteceu
Você foi...
O caso mais antigo
E o amor mais amigo
Que me apareceu
Das lembranças
Que eu trago na vida
Você é a saudade
Que eu gosto de ter
Só assim!
Sinto você bem perto de mim
Outra vez...
Me esqueci!
De tentar te esquecer
Resolvi!
Te querer, por querer
Decidi te lembrar
Quantas vezes
Eu tenha vontade
Sem nada perder...
Ah!
Você foi!
Toda a felicidade
Você foi a maldade
Que só me fez bem
Você foi!
O melhor dos meus planos
E o pior dos enganos
Que eu pude fazer...
Das lembranças
Que eu trago na vida
Você é a saudade
Que eu gosto de ter
Só assim!
Sinto você bem perto de mim
Outra vez....

segunda-feira, 10 de junho de 2013


Ontem eu morri
Era uma morte anunciada
O dia despontara com nuvens
Negras no horizonte
Os gritos em forma de canto
Dos agourentos pássaros
Faziam se ouvir a distância
Cambaleei até o chão que
De tão frio me despertou
Ergui a face rumo às nesgas de sol
Na tentativa inútil
De sua clemência
Refiz os últimos momentos
As últimas horas
Engoli as lágrimas como
Amargo café da manhã
Contei histórias
Contei memórias
Apaguei as mágoas
Com a borracha da certeza
Não me arrependi de nada
As últimas horas encontraram-me
Despida no canto vazio da sala
Não havia bagagem para minha partida
Da mesma forma que cheguei um dia
Agora conscientemente partiria
Estranhamente alguns sons
Chegaram para minha despedida
O choro tantas vezes guardado
A gargalhada dos momentos leves
Os ritmos lentos, porém precisos
Da vida que quis ter
Vi se apagarem as luzes
E o corpo ora emprestado
Adormecido ao pé da cama
Sem cansaço ou tristeza
Ontem eu morri e
E nessas primeiras horas
Banhadas de róseos matizes
Milagrosamente renasci!

domingo, 26 de maio de 2013

Não que você não seja bonitinho
Legal, engraçado, bom de cama
É que depois de um tempo
Perde a graça e deixa de ser interessante
Não que você não aqueça meu corpo
É que chega uma hora que brasas
Não são suficiente preciso de fornalha
As pinceladas ao longo do tempo
Desenham um quadro que eu idealizei
Com o rosto que eu imaginei
Criado a partir dos meus desejos
Mas até os desejos, às vezes
Precisam ser trocados
Não que você vá sair do meu imaginário
Mas é preciso trocar as roupas
E é sempre bom vestir algo novo
Deixa-nos com a sensação
De jovialidade estampada no corpo.




Foto Internet

Noite de lua cheia...
Figuras femininas
Despem-se diante  da luz mágica
Que as embebedam de sensualidade
O uivo alcança o tom mais alto
E a dança convida ao acasalamento
Noite de lua cheia...
Mulher transformada em loba
Na caçada que domina a noite
Cheiro aguçado, desejo revelado
Noite de lua cheia...
Da boca que devora a carne
Na satisfação do corpo
Na dominação do outro
Noite de lua cheia...
Fim do dia e ele me acompanhou cada minuto
Soprando frases soltas em meus ouvidos
Desdenhando de meus esforços na
Tentativa infeliz de afastá-lo de mim
Se ajeitava com graça e fazia troça
Sempre que tentava desviar do assunto
Às vezes me pegava distraída e ele
Vinha sorrateiro e até me acarinhava
Sabendo que gosto tanto quanto
Vem por trás e me abraça com força
Em alguns momentos o frio e o silêncio
Tornavam-se seus cúmplices e ele
Achava-se meu dono
Já cansada dessa luta inutil
Devo dizer que essa guerra
Quem perdeu fui eu
Melhor lançar-me em abandono
E no calor dos braços seus
Ser totalmente sua meu adorado SONO.





Mais uma noite insone
Fria, dolorida e silenciosa
O tempo me olha quieto em seu canto
Não me incomoda tão pouco
Apieda-se de mim
Rabisco letras e os desenhos
Aos poucos transformam-se
Em palavras vazias
Elas ficam ali também
Não se arriscam manifestar-se
A noite tem tantos mistérios
Com magia ela cria ilusões
Que ao toque se diluem
Viram fumaça dissolvendo
Não há um sussurro no ar
Apenas o silêncio
Rigoroso e pleno de significado
O silêncio diz mais que
Toneladas de palavras vazias
Eu o escuto e luto para
Não compreendê-lo
Na sua simplicidade e sabedoria
Aplica-me a dose certa da droga
Que preciso para continuar
Alguns viciados levam tempo
Para desintoxicar seus corpos
Sinto-me como um viciado
Na luta por sua libertação
E nestas noites sem sono
Tiro de mim a máscara
Que preciso levar durante o dia
E enxergo a imagem refletida
No espelho com espanto e receio
O corpo cansado e velho
Me olha com carinho
A hora se aproxima e sinto
Que é preciso seguir adiante

Em algum lugar você está
O sorriso leve
O olhar sincero
O toque nos momentos de
Intensa atividade
As palavras que não precisavam ser ditas
O aconchego a segurança
A certeza de que seria eterno
Não me sobrou mais nada
Apenas um coração oco
Vazio de sentimentos
Perdida me encontro
Sozinha na multidão
Não há ninguém capaz
De me acalentar 
apenas com um olhar
Cada rosto que a mim chega
Não consegue preencher
O abismo formado
Sinto nossas mãos no último toque
Vejo a fina linha que nos prendia
Dissolvendo-se no ar
Aos poucos vou me esquecendo
Do teu belo rosto e me desespero
Quando o vento sopra imagino
Você sussurrando ao meu ouvido
A poesia que me presenteava
A cada manhã com palavras
Que tornavam-se melodia
E que iluminava cada segundo
Do meu longo dia
Hoje a poesia me acompanha
E tento em vão colocar em palavras
A saudade que me devora
Na tentativa infeliz de amenizar
A dor da ausência e a certeza
De que longa será a jornada
Até nosso reencontro
Nada que digo ou faça
Tem qualquer importância
Porque nada nem ninguém
Ocupará o lugar que você
Com sua doçura, inteligência
Amor descomplicado 
Soube tão bem conquistar
Caminho tão somente por caminhar
Consciente que você está feliz
E assim como eu aguarda pacientemente
O momento certo de nos reencontrar
Mas a saudade, às vezes, bate sem dó
Amor da minha vida...De tantas vidas!





O Cravo e a Rosa


O cravo e a rosa
Belos em suas formas
O cravo desdenha a rosa
A considera flor da vida
A rosa admira o cravo
Por considerá-lo muito
Mais que um simples cravo
O cravo se enche de prepotência
Na sua altivez desmedida
Na sua arrogância incontida
A rosa brilha no seu estado
De pureza de vida
Enquanto o cravo
Busca o reconhecimento
Por seus feitos
Nem sempre tão perfeitos
A rosa se agiganta
Pois sabe que é bela
E sua beleza vem de dentro
Daquilo que faz, suas ações
E do jeito simples de florear
Seus caminhos
Enquanto o cravo se exibe
A rosa vive, mesmo com seus espinhos.


A madrugada me encontra
E se depara com a imagem do
Tempo passando a noite comigo
Seus sussurros lentos embalam
Esse corpo cansado e sem sono
Céu de estrelas e o silêncio
O frio chega tão perto que
Que arrepia a minha pele
Formando desenhos estranhos
Folheio livros, reviro lembranças
Sinto o cheiro das velhas histórias
Acaricio com cuidado pedaços
De sentimentos  guardados
No fundo escuro do coração
Lá eles adormecem tranquilos
O calor que não aquece e
As certezas que machucam
Vão costurando os fios
Em volta do meu corpo
Criando a moldura que
Protege a aquarelada
Figura de cores já desbotadas
Os tons dourados da manhã
Completam essa tecedura
Da armadura que me permitirá
Atravessar as longas horas
De mais um dia de espera
Nessa jornada que me leva
A caminhos desconhecidos
Onde o destino é guardião absoluto.

                       (Foto: "Série: Sombras" Jacqueline Batista) 


Vou caminhando
Retirando os espinhos e limpando as feridas
Tropeçando nas pedras
Equilibrando-me com parcos apoios
A distância percorrida revela-me
Mais do que havia imaginado
Pinturas borradas de uma
Paisagem que imaginava tão bela
Retroceder no tempo
Na ingênua vontade de recuperar
Um tempo que já partiu
E que minhas retinas fechadas não viu

Quando você veio naquela manhã de inverno
Não podia imaginar que meus dias vindouros
Seriam repletos de fantasias, ilusões, tristezas
Não nego que houveram momentos de alegria
Uma falsa alegria tenho certeza hoje
Pudesse eu voltar no tempo
Aquele dia não existiria
Talvez tivesse perdido a oportunidade
De sorver tantos sabores
Mas não teria manchado minha alma
Com tantos dissabores
Noites vi chegar e partir com a aurora
As lágrimas me fizeram companhia
E por muito tempo vieram durante o dia
Você nunca  olhou em meus olhos
E todas as vezes simplesmente
Passou o tempo como se ali na sua frente
Eu fosse apenas um pequeno objeto descartável
Desnecessário e tão vazio de importância
E com um simples toque fizesse desaparecer
Como sempre o fizera
Meus sentimentos nunca tiveram valor
Talvez fossem apenas motivo de desdém
E que tantas vezes esnobou e desprezou 
Quisera no tempo voltar e nada disso viver
Mas não teria a sorte de aprender
A me livrar de germes como você.

Hoje eu queria um abraço apertado
Um beijo demorado
Sussurros no ouvido
Mel em forma de canto
E nesse encanto apenas ser
Transformar em um o que ora fora dois
Ser, independente de ter
Quisera apenas merecer
E nesse instante me enternecer...

                                                                                      (Foto: "Série: Sombras" Jacqueline Batista)


"Não aceito coisa alguma de quem quiser me catalogar. Só aceito as críticas de quem seja capaz de vivenciar comigo a sensibilidade e a experiência que me levaram a um quadro ou a uma atitude..." 
Lygia Clark

terça-feira, 7 de maio de 2013

A dama que espera

Nessas manhãs de outono que o azul domina o céu
No fulgurante brilho da existência
Recorro aos ensinamentos do passado distante
Vasculhando gavetas de lembranças
Descalçando os pés e despindo-me do ontem
Vou deslizando pelo assoalho de sentimentos
Encerados por lágrimas e risos
Brincando nesse parque de emoções
Sob o olhar da bela dama que me observa
Na sua enigmática figura acomodada
Na espera que não lhe aflige
Conto os dias em forma de horas
Discorro ao vento as histórias passadas
Retardo o tempo com a ilusão de memórias
Busco a criança que brincava solta
Correndo no campo de gramas novas
Alimentando-me dos brotos das sementes
Ontem lançadas e esquecidas
Olho em volta e tento materializar os sonhos
Desperdiçados por medos tolos
E o olhar da senhora segue meus passos
Silenciosa e sem alarde
Ela me assusta e ao mesmo tempo me liberta
Chegou meu tempo?
Acabou minha história?
Apenas um rasgo no universo
Levando na cauda da poeira que brilha
Um rosto de formas mil
E um corpo que já não arqueja
Flutua na busca de outros tempos
Na certeza de outras histórias


segunda-feira, 6 de maio de 2013


O palhaço se diverte observando a moça que adoça o dia
com o açúcar transformado em algodão
A menininha acaricia a foca que lança
um olhar carinhoso de aprovação
E as almas de muitas histórias
se encontram, reencontram
O brilho nos olhos é a certeza
que quando estamos junto de pessoas 
que nos completam, nos preenchem
tornamo-nos seres muito mais HUMANOS
Amor que não se mensura
e é ETERNO...

    (Para vocês que amo tanto Jânia Maia e Laura)

sábado, 6 de abril de 2013




E eu fiquei ali parada, imóvel...
Até o vento se calou, retirando-se e me deixando só
Seus lábios macios deslizavam vagarosamente
Por sobre a pele de meu pescoço que queimava
Aos poucos a boca abria-se em um sussurro
As palavras agora eram deitadas em meus ouvidos
Que desciam até meu coração e ali se aconchegavam
Suas mãos quentes acariciavam meus cabelos
E o toque tal como mágica elevavam meus pés
Deixando-me sem chão, flutuando no espaço... 
Apertada ao teu peito fui sorvendo teu cheiro 
E me embebedando de teu hálito doce
Já perdida e embriagada fui lançada ao céu
Arrebatada por mãos e sussurros 
Condenada à deliciosa sensação de desamparo
E o vento retornou e meus olhos foram abertos
E a imagem se dissolveu...





Perguntei ao vento se ele havia encontrado teus rastros

Ele assegurou-me que há muito perdera teus passos

Perguntei a chuva se havia molhado teu rosto

Ela me respondeu que não mais o vira e de você se perdeu

Perguntei ao sol se havia iluminado teus dias

Ele entristecido me respondeu que, embora por ti

Houvesse procurado apenas nuvens e sombras foi encontrado

E a lua, de mim piedosa, acrescentou com seu brilho ofuscante,

Se não houve rastros no caminho e nem história deixada

Você aprendeu uma grande lição

Não esperar por nada...

Não acreditar em nada...

Desistir...

Pessimismo?... Negação?...

Meus olhos arregalados e meu espanto

Foram logo acalmados

Entenda que foram essas as melhores lições

Quando não lhe acrescentam nada é por que

Nunca valeram a pena...

Aprenda a não esperar nada de quem é vazio

A não acreditar em nada que não tenha alma

Desista de tudo que seja pequeno e volúvel

E uma estrela que prestava atenção em tudo

Lançou-me sua cumplicidade e com ela viajei

Fui para outras terras, outras histórias

E apenas os sonhos comigo levei...




Meus pés cansados vão até onde posso encontrar os teus. Na segurança de teus passos sinto que posso descansar os meus.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013


E eu que nem sabia direito o caminho do traço
Arrisquei-me no passo
Lançando fora os resquícios de outrora
Libertando minhas asas
Do invólucro morno e cômodo
Para descobrir-me metamorfoseada
Ai, pedacinhos de céu que, como estrelas,
Por sobre minha alma caem
Vou levitando e dançando
Dando ao vento beijos soprados
Para que o tempo entregue
Ao destinatário
O traço se faz caminho
E nos tropeços ou espinhos
Desnudo-me de nadas
Para vestir-me de tudo.

E aí vem você, todo dengoso e cheiroso Roça meu pescoço, você é habilidoso Sabe sussurrar em meus ouvidos Palavras que fazem meus pêlos e...