segunda-feira, 29 de outubro de 2012


Sou negro
Dizem que tenho a pele negra
Mas quando olho para ela
Não consigo enxergar essa cor
Ela tem tons de chocolate com um toque de café
Muitos me olham com asco
Sei que pareço um deficiente
Para aqueles ditos inteligentes
Não quero ofender, mas que eu saiba
A cor do meu sangue é igual a sua
Um vermelho denso e brilhante
Meus dentes são tão brancos
Meus cabelos, para muitos pixaim,
É motivo de orgulho para mim
Seu desdém, às vezes, me magoa,
Mas tenho para mim que você
Em algum momento de sua
Tão divertida existência
Gostaria de ser como eu
Já nasci com o gingado no corpo
Rebolo meus quadris com suavidade
Meus pés deslizam ao som do cavaquinho
Do agogô e do tamborim 
Tenho o sorriso solto e meus antepassados
Foram reis e rainhas repletos de histórias
Talvez por isso tenhamos sido aprisionados
Mas apenas o corpo sofreu os flagelos
Da sua pequenez e ignorância
Nossa alma é livre
Nossos mitos yorubás
São nossos protetores e guias
Sou negro e orgulho-me de sê-lo
Minha história vem antes da sua
E por mais que você me ignore
Sou presente, tenho presença,
Sou forte e desejado
Sou negro, sou força, sou fruto
Da natureza que me dá vida
Na esperança constante que a proteja
Cometo erros assim como você
E pago bem mais caro pelo simples fato
De ser negro
Não tenho raça, tenho alma.
E os matizes amarronzados da minha pele
Não deveriam ser as únicas formas de nos
Diferenciar e ignorar.





Um comentário:

Jose Amaral Neto disse...

Que belo poema Jacqueline minha amiga linda! Maravilhosa homenagem escrita com a energia de deusas de tempos imemoriais e atemporais. Valeu!!!!! ABRAÇÃO. Amaral

E aí vem você, todo dengoso e cheiroso Roça meu pescoço, você é habilidoso Sabe sussurrar em meus ouvidos Palavras que fazem meus pêlos e...