domingo, 2 de fevereiro de 2014

Hoje eu enxerguei você
Foi num daqueles passeios descompromissados
Já o tinha visto tantas vezes
Mas jamais enxergado
Incrível como criamos camadas
Por sobre a pessoa amada
Ou que acreditamos amar
E a cada pincelada tornamo-nos cegos
Desligamos as luzes de alerta
E nos contentamos com a obra que criamos
Mas o senhor destino, destemido e que jamais se cansa
Escolhe justamente aquele momento
Em que vagamos distraidamente
Para lhe tirar a palheta da mão
E impedir que você crie mais camadas
E como carrasco que é vai dissolvendo
O que você idealizou e fantasiou
O que se revela não é de todo feio
Mas também não é mais tão belo
Não há nada a dizer as palavras
Pedem licença para se retirar
Os olhos agora desnudos
Faz brotar a água que alivia
Mas que também transborda
Numa enxurrada de sensações
O resto do corpo mantem-se
Aquietado e cansado
Ao enxergar você
Percebi que o encanto fora quebrado
E me vi escorrendo como areia
Até chegar ao fundo
Totalmente esvaziada
Há uma tristeza que me ronda
Há uma raiva que rivaliza com ela
As duas travam uma luta intensa
O silêncio vem ao meu encontro
Embala-me em seus braços
A exaustão é tamanha
Meu corpo se deixa cair
Ao enxergar você, como mágica
Você deixou de existir.

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