quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Consolo na praia (Carlos Drummond de Andrade)

Vamos, não chores.

A infância está perdida.

A mocidade está perdida.

Mas a vida não se perdeu.


O primeiro amor passou.

O segundo amor passou.

O terceiro amor passou.

Mas o coração continua.


Perdeste o melhor amigo.

Não tentaste qualquer viagem.

Não possuis carro, navio, terra.

Mas tens um cão.


Algumas palavras duras,

em voz mansa, te golpearam.

Nunca, nunca cicatrizam.

Mas, e o humour?


A injustiça não se resolve.

À sombra do mundo errado

murmuraste um protesto tímido.

Mas virão outros.


Tudo somado, devias

precipitar-te, de vez, nas águas.

Estás nu na areia, no vento...

Dorme, meu filho.

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